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XXXIII Domingo do Tempo Comum – Ano A

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Breve comentário

            A parábola deste domingo é a continuação do texto do domingo passado que terminava com o aviso de Jesus: «Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora» (Mt 25,13). E deve ser neste contexto e a esta luz que a parábola deve ser entendida para não perder a sua força e poder captar-se a sua mensagem.

            O problema é que muitos ouvintes ou leitores, ao ouvirem ou lerem esta parábola, fazem uma interpretação simplista: os talentos são as qualidades (os «talentos») recebidas que cada um deve desenvolver… Jesus (o homem que volta e pede contas) fica muito mal pela forma como tratou o que recebeu um só talento! Coitado, não teria capacidade para mais… E, de repente, este servo, tratado como «mau e preguiçoso» e como «inútil» passa a ser o herói da história!

Analisemos o texto. A narração faz referência a uma prática comum na Palestina no tempo de Jesus em que os  proprietários eram estrangeiros habitualmente ausentes, cujos bens eram confiados a administradores. Aquele senhor que partiu entregou a sua fortuna, todos os seus bens, a três servos, isto é, a três funcionários, e distribuiu-os «a cada qual conforme a sua capacidade»: a um cinco talentos, a outro dois e a outro entregou um. Portanto, cada um deles, à partida, tinha capacidade para fazer render o que recebeu. E não fiquemos com pena do que recebeu apenas um talento, pois o talento era uma medida monetária equivalente a 6.000 denários. Sendo o denário, na altura, um bom salário para um dia de trabalho, quer dizer que um talento significa 20 anos de salário dum trabalhador!

Deixando de ter pena do que recebeu um talento, continuemos a história. O que recebeu cinco talentos trabalhou com eles e fez [ganhou] outros cinco talentos. Do mesmo modo também, o dos dois talento, ganhou ele, igualmente, outros dois. Mas aquele que recebeu um, tendo-se afastado, cavou na terra e escondeu a prata do seu senhor.

            A atitude do senhor que regressa e pede contas é idêntica em relação aos dois primeiros. Porque fizeram render o dinheiro e conseguiram um lucro de 100%, aumentando para o dobro a quantidade recebida. Por isso as palavras do senhor foram igualmente laudatórias. A mesma atitude teria o senhor em relação ao terceiro servo se, em vez de esconder o talento, ao menos tivesse posto o dinheiro no banco a render. Sempre daria mais alguma coisa! Mas não!

            O que recebeu um único talento escondeu-o após cavar um buraco no chão. Era o costume da época, em tempos de guerra, em que os saqueadores eram frequentes e não existiam meios para guardar melhor os bens adquiridos.

            Não era o caso. Havia os cambistas que tinham como lugar de trabalho uma banca ou mesa (daí o termo «banco») que, por vezes abusavam nas taxas de câmbio. Também recebiam empréstimos e investimentos, pagando juros sobre o dinheiro depositado a eles. Os juros dos empréstimos eram de 12 a 13 % se eram de emergência, e até 50% ao ano. Existiam também poupanças e faziam-se hipotecas e existiam cartas de crédito. Assim, os cambistas e os bancos deveriam ter sido a resposta e não o buraco no chão sem proveito nenhum para o senhor. Não havia necessidade de enterrar na terra o talento. A conduta daquele servo é reprovável como  administrador da confiança do seu senhor. Daí ser expulso, numa linguagem típica da época.

O «senhor» é Jesus que, antes de partir, entregou bens consideráveis aos seus os discípulos. Os «talentos» são os dons que Deus, através de Jesus, entregou aos homens – a Palavra de Deus, os valores do Evangelho, o Espírito, o próprio Jesus nos Sacramentos, os diversos carismas e ministérios para o serviço dos outros. Os discípulos não são apenas fiéis depositários dos bens recebidos mas devem pô-los a render, pondo de parte o comodismo, a preguiça ou o medo.

Um dia o Senhor virá para pedir contas da administração de cada um. Aqueles que fizeram render os talentos a eles confiados entrarão na sua alegria, isto é, no seu convívio, serão participantes do seu amor total. Aqueles que agem apenas por medo, que aparentemente não fazem mal mas também não são constroem nada na vida, são «maus, preguiçosos e inúteis. Não têm lugar no convívio dos que arriscam, dos que constroem sem medo.

 P. Franclim Pacheco

Diocese de Aveiro

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