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A PALAVRA QUE ILUMINA O CORAÇÃO

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Pe. Georgino Rocha

Jesus continua a dar-nos boas notícias nos seus ensinamentos. Aproveita oportunidades que as situações da vida lhe proporcionam ou cria factos que realizam o que, depois, anuncia em narrativas estimulantes. Mc 7, 1-8. 14-15. 21-23. Hoje surge no seu caminho um grupo de fariseus e de doutores da Lei. Os primeiros, muito zelosos em manter as tradições e em as observar escrupulosamente. Os segundos, conhecedores da Lei e das suas centenas de normas que examinam até ao pormenor. Reúnem-se à volta de Jesus, num espaço fora da sinagoga. Ao verem a atitude dos discípulos – comer sem lavar as mãos, atitude que contagia os alimentos, tornando-os impuros e, por isso, contrariando a tradição -, pedem-lhe explicações com a pergunta inquisitorial: Porque procedem assim, não respeitando os antigos nem as suas tradições sagradas?

A resposta de Jesus lembra-lhes a profecia de Isaías: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Não adianta prestarem-me culto, porque ensinam preceitos humanos. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”. E aduz o exemplo concreto do Corbã – voto feito por alguém que dedicava ao Templo os bens pessoais (coisa aparentemente bela e louvável), ainda que os pais sofressem grandes necessidades e viessem a morrer de fome. “E fazeis muitas outras coisas como estas”.

A história regista inúmeras situações em que os preceitos humanos se sobrepuseram à Palavra de Deus, a autoridade evangélica reveste a cor do poder político e económico, a adesão cordial a Cristo Salvador e a fraternidade humana são envolvidas por roupagens devocionais discriminatórias. A este propósito afirma São João Crisóstomo com grande sabedoria “Vós adornais os templos, mas tendes Cristo metido nas prisões”.

 Será a partir desse húmus que a nova etapa de evangelização terá de avançar, prosseguindo o belo e estimulante exemplo do Papa Francisco: Louvar a Deus com as “mãos sujas” do serviço humilde, com o coração apaixonado pela libertação dos miseráveis, com a fantasia criadora de novas oportunidades de entreajuda solidária.

O grupo dos doutos e zelosos interlocutores vê-se contraditado no seu próprio campo: o das tradições e leis, o de ter uma vida divorciada da religião, o de negar, com a prática, o preceito de Deus. E para ilustrar este contrassenso, Jesus conta uma parábola aberta à multidão sobre o alimento que se come, vai para o estômago e depois sai naturalmente transformado em imundice. É dentro que se gera a pureza/virtude e não no exterior, no coração/na consciência e não na aparência – mesmo vistosa e com ares sagrados -, na sintonia com os princípios/mandamentos de Deus e não com interpretações – ainda que doutas – de ocasião, acomodadas às conveniências religiosas, sociais e políticas ou às modas auto-denominadas progressistas e inovadoras.

O centro da nova moralidade, que Jesus anuncia e condiz com o melhor da dignidade humana, está na consciência iluminada não apenas pela natureza nem pela sabedoria das culturas ou dos direitos fundamentais do Homem, mas pela Palavra de Deus, assumida na sua integridade e fielmente interpretada. Consciência que pondera os elementos de que dispõe, que se abre à verdade da razão esclarecida, que valora as circunstâncias em que se situa, que faz opções coerentes e consistentes, que não abdica da sua dignidade, mesmo em caso de perigo de vida. Veja-se o exemplo de Sócrates, o filósofo, Jesus Cristo, Tomás Moro e tantos contemporâneos mártires por causas nobres/santas. Brilhante resposta. Belo ensinamento, a reter sempre na memória agradecida.

É de dentro do coração da pessoa que sai o que degrada ou enobrece a dignidade humana, mantém a integridade moral, manifesta a sua sintonia com o ritmo do “coração” de Deus que, em Jesus Cristo, define as novas regras de apreciação da bondade e da maldade do agir pessoal e social, privado e público. Em todos os campos. A consciência constitui o âmbito do encontro da pessoa com Deus, encontro que se capta e manifesta por uma voz discreta, “audível” no silêncio e na palavra, na sensibilidade dos artistas e na contemplação dos orantes, nos gemidos das vítimas e nos gestos dos profetas. Jesus ensina-nos a cultivar a bondade do coração/consciência, para não sermos excêntricos, mas testemunharmos o valor do mundo interior de cada pessoa que se projecta necessariamente nas atitudes e comportamentos exteriores e públicos.

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