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X Domingo do Tempo Comum – Ano C

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Breve comentário

Este texto, que só se encontra no evangelho segundo Lucas, é dominado pelo tema da ressurreição e da vida. Lucas é o único a contar duas reanimações operadas por Jesus: em favor deste jovem e, um pouco adiante, da filha de Jairo (8,40-56). Porém, pela forma como o evangelista apresenta o texto, não podemos deixar de pensar na ressurreição do próprio Jesus: filho único, fora da cidade, o verbo «erguer» (em grego igual a «ressuscitar»), a tristeza convertida em alegria… O nome Naim significa «delícias»: é o anúncio dum mundo novo, da nova criação.

Mas acompanhemos o texto. Jesus está ainda na zona norte, na Galileia. Em Cafarnaum tinha realizado a cura do servo do centurião e agora dirige-se para Naim, a cerca de 10 km de Nazaré.  Vê-se que já alcançou algum sucesso pois segue-o uma grande multidão.

À porta da cidade de Naim encontram-se dois cortejos: o cortejo de Jesus que dá a vida e o cortejo da morte. Os mortos eram sepultados fora da cidade. Toda a atenção do evangelista está voltada para a mulher viúva e o seu drama. Não só é viúva, mas leva à sepultura o seu único filho, ficando agora sem qualquer protecção e sustento económico. A multidão que acompanha esta viúva podia, talvez, consolá-la um pouco, mas não podia resolver o seu problema.

Lucas apresenta Jesus com o título de «Senhor» que lhe tinha sido dado pela comunidade  primitiva. Este título é utilizado sobretudo para Cristo ressuscitado. Presente neste título, o título «Senhor» pode estar a indicar que Jesus é o Messias salvador que cuida do seu povo.

Porém, Jesus sente uma compaixão que tem o poder de resolver os problemas. Ele que tinha dito: «Felizes vós que agora chorais, porque haveis de rir» (Lc 6,21), traz agora concretamente a misericórdia de Deus àqueles que gemem e choram. Deus inaugura o seu reino com a misericórdia para com os oprimidos.

O que chama a atenção no texto é o facto de Jesus tomar uma atitude, sem que alguém lhe tenha directamente pedido ou intercedido. Jesus é o «Senhor», mas não se esquece da sua compaixão para com a infeliz mãe. Um «senhor» dá normalmente prova de poder, Jesus sobretudo de bondade. A comunidade tinha necessidade de se convencer dos seus poderes mas, mais ainda, do seu amor, da sua misericórdia.

O verbo grego (splagchnizein) utilizado com o sentido de comover-se ou compadecer-se indica um sentimento tão vivo e intenso que os evangelistas o reservam para indicar as emoções de Deus e de Jesus. O verbo grego deriva do termo splanchnon: os órgãos internos, as vísceras, o coração, e indica a ternura de Deus para com o seu povo (cf. Lc 1,78): Deus tem vísceras de compaixão. O verbo é utilizado por Lucas referido a outros sujeitos na parábola do Bom Samaritano (Lc 10,33) e na do Pai misericordioso que se comove ao ver o filho que regressa  (Lc 15,20). É interessante notar que se trata de figuras que de alguma modo referem a capacidade de amar própria de Deus.

Jesus vê, comove-se, aproxima-se, toca no caixão, sem se importar com a pureza ritual que proíbe este gesto (cf. Nm 19,11-16) e age através da sua palavra («disse»).

É importante notar que Jesus realiza este gesto miraculoso sem que ninguém lho peça. Age de maneira completamente gratuita e incondicional, sem sequer exigir a fé.

Já o Antigo Testamento apresenta duas antecipações proféticas: a de Elias que restitui à vida o filho da viúva de Sarepta (1Rs 17,17-24) e a de Eliseu que desperta o filho da sunamita (2Rs 4,32-37). Por isso, a multidão presente vê em Jesus «um grande profeta» semelhante a Elias, com o poder sobre a morte, e sente que o tempo da ausência de profetas terminou. Deus está presente no meio do seu povo. É esta fama de Jesus como Profeta que se vai difundir por todo o lado.

A reacção final da multidão que assiste procura salientar que está a ter cumprimento o que Zacarias tinha profetizado: «Bendito o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, e suscitou para nós um salvador poderoso na casa de David, seu servo…. para iluminar (= dar a vida) os que jazem nas trevas e na sombra da morte» (Lc 1,68-69.79).

 

Pe. Franclim Pacheco

Diocese de Aveiro

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