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XXVI Domingo do Tempo Comum – Ano C

datum: 2003-09-24

datum: 2003-09-24

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Breve comentário

A parábola deste Domingo apenas se encontra no Evangelho de Lucas. Trata-se duma catequese que aborda o problema da relação entre o homem e os bens deste mundo. Jesus dirige-se aos fariseus como representantes de todos aqueles que amam o dinheiro e vivem em função dele.

Na primeira parte (vv. 19-26) Lucas apresenta os dois personagens fundamentais da história: um rico que vive luxuosamente e um pobre, que tem fome, vive miseravelmente e está doente. A morte de ambos vem alterar a situação. Que lição apresenta Jesus? Devemos estar atentos a alguns pormenores para perceber o que Jesus pretende ensinar.

Quanto ao rico, descreve-se a sua vida faustosa, não se dizendo se era bom ou mau. A moralidade do comportamento não é tida em consideração. Não se fala nem de desonestidade, nem de vida dissoluta. É um rico que não tem nome!

            O pobre tem nome: Lázaro, forma grega do nome hebraico/aramaico Eleazar, que significa «aquele que Deus socorre» ou «Deus ajuda». Dificilmente o leitor grego poderia captar este significado. Porém, o facto de ter um nome sugeria sobretudo que o pobre tinha uma identidade junto de Deus.

Lucas quer comover o leitor com o estado de aflição do pobre que pertence à categoria de pessoas que Jesus proclama «bem aventuradas».

Outro elemento acerca de Lázaro: não tinha com que matar a fome, enquanto o rico estava sempre em banquetes; Lázaro não podia sequer alimentar-se com os bocados de pão que serviam para limpar as mãos e que eram atiradas para debaixo da mesa e comidos pelos cães. Como não bastasse, até os cães da rua o incomodavam com as lambedelas nas suas chagas, sem que ele pudesse defender-se.

Também em relação ao pobre nada é dito acerca da sua moralidade ou da paciência com que suportava a sua vida, a sua confiança em Deus… Porém, quando morre, o pobre foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Acerca do rico é dito que também morreu e foi sepultado.

            O rico encontra-se no Hades (em hebraico: sheol), na morada dos mortos: como lugar de tormento, o Hades parece identificar-se com a Geena (lugar de Jerusalém onde se depositavam e queimavam os lixos). Também Abraão se encontra no Hades, mas num lugar à parte. O rico encontra-se num lugar de tormento, sendo agora a sua situação descrita com pormenores, mas pode ver Abraão à distância e com ele estabelece um diálogo.

            As súplicas do rico atormentado servem para acentuar mais o contraste entre a sua vida faustosa sobre a terra e a mudança de situação. Em vez de pedir a intervenção de Abraão em seu favor, pede a ajuda de Lázaro: agora é o rico a desejar alguma coisa que o sacie… Porém, entre os mortos justos e os ímpios a comunicação já não é possível e, portanto, a destino do rico é irreversível: Lázaro não pode ajudá-lo. Esta verdade é apresentada com a imagem do «grande abismo» fixado por Deus que não pode ser ultrapassado.

            É a riqueza ou a pobreza a determinar o destino diferente de cada um. Na perspectiva do evangelista Lucas, a riqueza é um dom de Deus posto ao serviço de todos, não apenas de alguns, mesmo que legitimamente conseguida. Quem a usa apenas em proveito próprio está a criar um abismo entre si e os necessitados, abismo este que depois não pode ser ultrapassado. Isto provoca o resto do diálogo.

            Agora o pedido do rico é em relação aos seus irmãos. De novo é requisitada a intervenção de Lázaro para evitar que os irmãos ainda vivos tivessem uma sorte semelhante à sua.

            O rico recebe uma segunda rejeição. No entanto, é afirmada a permanente validade da Lei: Moisés e os Profetas devem ser escutados à luz das exigências do Reino reveladas por Jesus. A Escritura contém o ensinamento necessário e suficiente para conhecer a vontade de Deus e, portanto, para entrar no seio de Abraão. Esta parte do texto dirige-se claramente aos fariseus, peritos na Escritura (Moisés e os Profetas). Quem não se deixa interpelar pela Palavra de Deus, mudando a sua atitude para com os outros, não é com sinais espectaculares que se irá converter.

 

Pe. Franclim Pacheco

Diocese de Aveiro

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