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VIII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Breve comentário

O texto deste domingo, na continuação do Sermão da Montanha, apresenta uma série de exortações acompanhadas de comparações, tiradas da observação da vida comum ou da natureza.

A primeira exortação encerra-se com a alternativa radical: Deus ou dinheiro, baseando-se na ideia de que um servo não pode servir a dois senhores ao mesmo tempo. A imagem de «servir», unida ao vocabulário afectivo (odiar, amar) tem uma carga de conotações religiosas. O serviço ao único Deus é definido como «amá-lo com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças» (Dt 6,4-5.10-12). Em nome desta dedicação total ao único Deus e Senhor contesta-se toda a idolatria, isto é, servir a outros deuses e senhores. Neste fundo religioso compreende-se o rigor da escolha evangélica que se opõe ao ídolo contrário a Deus. O termo mammona (dinheiro, riqueza) que aparece no texto grego de facto é aramaico e tem como raiz as letras ?mn que significando «aquilo em que se coloca a sua confiança». É verdade que a riqueza é o que permite ter segurança para quem coloca nela a sua confiança, mas a riqueza não pode tronar-se um ídolo, opondo-se a Deus.

A segunda exortação refere-se à não preocupação com as necessidades elementares, como são a comida e a roupa. A motivação do discurso evangélico assenta na hierarquia de valores, com uma referência à acção criadora de Deus. Quem deu a vida e o corpo não proverá também ao que lhes é necessário?

Os exemplos que se seguem partem precisamente desta ideia de Deus criador e providente. Deus provê comida a todos os animais, mesmo aos mais simples. O mesmo argumento serve para os lírios do campo, que se apresentam com beleza e esplendor, e para a erva, imagem do aspecto efémero e mortal da existência humana. A referência ao rei Salomão, filho e sucessor de seu pai David,  tem como fundo os textos de 1Rs 10,4-5 e 2Cr 9,13-22 em que se evidencia a sua magnificência e riqueza. Por isso os discípulos que se preocupam demasiado com a comida e com a roupa revelam uma fé débil que desconfia da generosidade e poder de Deus Pai: são «homens de pouca fé» (cf. Mt 8,26; 14,31; 16,8). O Pai celeste conhece a necessidade dos seus filhos e cuida deles, tal como cuidou do seu povo oprimido no Egipto (cf. Ex 2,23-25).

A partir destes exemplos, o discurso continua com uma exortação directa aos discípulos, definindo como prioridade a procura do Reino que se traduz na «justiça» do Pai celeste, isto é, a procura da vontade de Deus, numa atitude de confiança absoluta no Pai celeste que «bem sabe que tendes necessidade de tudo isso».

A justiça do reino é um tema caro a Mateus, entendido aqui como uma procura activa de tal justiça como é revelada pelo ensino de Jesus, isto é, a procura da vontade de Deus. A preocupação principal do crente deve ser o reino de Deus e a sua justiça, bem supremo. Este desejo de fundo torna-se uma regra geral válida em todas as circunstâncias. Todas as outras coisas devem ser esperadas de Deus e pedir-lhe com a confiança de filhos ao Pai providente e carinhoso que de certeza não nos fará faltar quanto é necessário para a nossa vida. A adesão a Deus orienta as nossas escolhas nos campos da vida quotidiana e liberta-as não só do egoísmo, mas também duma visão demasiado curta que não nos permite viver verdadeiramente.

Uma ânsia excessiva em relação às pequenas ou grandes necessidades quotidianas pode ofuscar o interesse e a recordação do objectivo e tirar o sentido da existências, inclusive anular a nossa relação com Deus, que é fundamental para que a vida tenha significado: a plena comunhão com Deus, o nosso Pai celeste.

 

Pe. Franclim Pacheco

Diocese de Aveiro

 

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