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XV Domingo do Tempo Comum – Ano A

Breve comentário

Com o texto deste domingo começa o discurso central do evangelho de Mateus, o discurso das parábolas, em que o evangelista reúne toda uma série de ensinamentos de Jesus acerca do mistério do Reino.  A «casa» donde Jesus sai é aquela onde ele mora em Cafarnaum e onde se encontra com os seus discípulos para os instruir e a sua saída é posta em relação com a do semeador (saiu Jesus – saiu o semeador). O seu «sair» tem como objectivo físico ou concreto a margem do lago de Genesaré, embora o texto lhe chame mar, usando a linguagem comum. A sua saída atrai uma multidão que o obriga a subir para um barco para daí lhes falar, usando a linguagem das parábolas.

Parábola é uma narrativa, imaginada ou verdadeira, que se apresenta com o fim de ensinar uma verdade. Difere da alegoria porque esta personifica atributos e qualidades pessoais como termos de comparação, ao passo que a parábola faz-nos ver as pessoas na sua maneira de proceder e de viver. Também difere da fábula, onde encontramos seres fantasiosos, já que aquela se limita ao que é humano e possível.

O emprego contínuo que Jesus fez das parábolas está em perfeita concordância com o método de ensino feito ao povo no templo e na sinagoga. Elas aparecem no Antigo Testamento (2Sm 12,1-4) e de modo especial nos profetas (Is 5,1-12; Ez 17,1-10). Os escribas e doutores da Lei faziam grande uso das parábolas e da linguagem figurada para ilustrar o seu ensino. Assim eram as Haggadoth [plural de haggadah = narrações] dos livros rabínicos. A parábola tantas vezes usada por Jesus no seu ministério (Mc 4,34) servia para esclarecer os seus ensinamentos, referindo-se à vida comum e aos interesses humanos, para manifestar a natureza do seu reino e para experimentar a disposição dos seus ouvintes (Mt 21,45; Lc 20,19). Era um método muito usado no Oriente, apropriado ao ensino indirecto dos valores e das realidades da vida.

A narração fala dum semeador, não dum lavrador, e a sua actividade é caracterizada pelo contraste entre perda de sementes (13,4-7) e fruto abundante (13,8). Além disso devemos notar uma diferença entre a riqueza dos pormenores com que é descrita a perda das sementes e a forma concisa do fruto abundante. Mas à quantidade das experiências de insucesso e de desilusão representadas pelas várias perdas de sementes (à beira do caminho… em terreno pedregoso… entre espinhos…) contrapõe-se a grande colheita que faz esquecer a experiência negativa da perda. De facto, espinhos e partes pedregosas eram comuns na terra da Palestina da época e os carreiros pisados que atravessavam os campos eram impenetráveis para as sementes. As numerosas cavernas existentes abrigavam pombas e pardais que aguardavam as sementes para se alimentarem.

À pergunta «porquê as parábolas?» Jesus diz que fala assim pelo facto de as multidões não compreenderem. Ele não pretende forçar a entender. De facto, até agora Jesus falou e agiu com clareza, mas as multidões nada compreenderam; tendo em conta isto, recorre à linguagem das parábolas que, sendo mais velada, poderá estimular as multidões a pensar mais e melhor, a reflectir nos obstáculos que impedem a sua compreensão do ensinamento do Jesus. Parecem repetir-se as circunstâncias do tempo de Isaías, quando o povo estava fechado à mensagem de Deus (Is 6,9-10).

Os discípulos são aqueles que acolheram em Jesus e na sua palavra a misteriosa revelação da senhoria de Deus e, por isso, são destinatários da promessa que diz respeito à sua condição final: a posse plena dos bens messiânicos. Em relação aos outros realiza-se a ameaça do juízo que se refere ao servo que, com medo, escondeu o talento do seu senhor: «ser-lhe-á tirado o que tem». É a perda das prerrogativas ligadas ao estatuto de povo de Deus, na sequência da longa história de infidelidades de Israel de que faz eco o texto de Isaías com a referência à cegueira e à surdez que impedem a cura, isto é, a salvação. Os discípulos crentes são declarados «felizes» porque participam daquela época messiânica esperada por «profetas e justos» do Antigo Testamento.

A explicação da parábola atinge o seu cume ao apresentar o ouvinte ideal: aquele que escuta e compreende a Palavra, isto é, põe-na em prática de forma activa e perseverante. Esta é a base para a apresentação das outras situações de inconstância e infidelidade, de perseverança por causa da tribulação e da perseguição que se exprime em insultos, calúnias, acusações e rejeições. Todas estas circunstâncias fazem parte do dia-a-dia da comunidade de cristãos a quem o evangelho de Mateus é dirigido.

Pe. Franclim Pacheco

Diocese de Aveiro

 

 

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