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Georgino Rocha

Ao sair do Templo, o Menino Jesus é tomado pelo velho Simeão e apresentado como Luz das nações e Salvador de todos os povos. Apresentação que é louvor a Deus, bênção para Israel e maravilha para Maria e José que ouve a oração profética do venerável ancião. Apresentação que abre novos horizontes ao reconhecimento feito pelos pastores na gruta de Belém.

Hoje, a gruta é de novo palco de outra apresentação feita aos Reis Magos, e constituí para nós o Evangelho da Festa da Epifania do Senhor, que a Igreja celebra.

Mateus, que escreve para Judeus, é o único evangelista a referir o episódio (Mt 2, 1-12). E fá-lo com beleza narrativa e grande alcance profético. Recorre a tradições bíblicas, como a de Isaías, hoje proclamada, e a outras fontes orais que trabalha com liberdade imaginativa. E faz o relato dos Reis Magos que constitui um autêntico itinerário de fé cristã. Vamos segui-lo de perto e “explorar” os seus pontos principais.

O primeiro passo deste itinerário surge na disposição interior dos Magos, na sua abertura ao mundo e atenção ao que acontece, na sua curiosidade e capacidade de percepção, na sua insatisfação com a sua religiosidade habitual. Sem esta disposição nem sequer se inicia o caminho. Vive-se na acomodação ou na indiferença. Semear a sã inquietação é ponto prévio de toda a iniciação cristã.

Os Magos aceitam ser guiados por aquela luz que os atrai e instiga. Arriscam. Não têm outro GPS nem Google. E a estrela brilha no seu espírito e ilumina os seus passos. Chegam a Jerusalém, a casa de Herodes. Aqui recebem nova ajuda ao ser-lhes proporcionado o encontro com as Escrituras, encontro de comunicação e de orientação, fruto de conhecimento fiável de sábios reconhecidos. Sem o contacto com a Palavra de Deus, como se pode alicerçar a iniciação cristã? E sem dispor de pessoas “formadas” que confiança ter em tantas sessões de catequese ou outras, ainda que cheias da melhor vontade?

Com a informação recebida, os Magos fazem-se de novo ao caminho no qual volta a brilhar a estrela guia reconhecida. E surge a troca de impressões sobre a exortação de Herodes, a partilha do que tinham visto e ouvido, as surpresas e tantas outras coisas ocorridas. Dão largas à sua vivência pessoal. Confiam uns nos outros e saboreiam a experiência de peregrinos da esperança e da procura. E são para nós um apelo vivo a prosseguir a busca e a testemunhar a confiança, apesar de tudo o que vemos e ouvimos.

A luz da estrela sinaliza o local onde está Aquele que procuram. Finalmente chegam. José acolhe-os, como é natural. E guia-os ao local onde está o Menino e sua Mãe. Deixa-os entregues à sua livre iniciativa. E o encontro acontece… Com grande emoção e simplicidade. Com possível estranheza e espanto. Com enorme devoção e reverência. “Prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O”, diz o texto que comentamos. Que cena tão enternecedora e comovente! Que experiência tão envolvente e marcante!

A marca deste encontro é tão profunda que eles abrem as “mochilas” e fazem as suas ricas ofertas, carregadas de simbolismo. A marca é tão decisiva que lhes altera o rumo da viagem. Vêem um menino e reconhecem o rosto do Rei que procuram. Vêem um curral de animais e sentem-se num palácio. Vêem a pobreza de tudo e comungam o desvelo de Maria e de José. Vêem um ser humano frágil e intuem com a luz da fé o ser divino que, agora, preenche o espaço ansioso do seu coração. A raiz da fé e a sua seiva estão em encontros semelhantes. Como é urgente provoca-los!

Os Magos, símbolo de toda a humanidade e culturas, enriquecem o seu gesto de adoração com a oferta de ouro, incenso e mirra. Pretendem dizer o que significa tal gesto a respeito de Jesus: a realeza feita serviço, a divindade a quem se reza e invoca, a fragilidade vulnerável do ser humano. E eu, que ofereço ao Senhor que acaba de nascer? Todos/as gostamos de dar as boas-vindas aos recém-nascidos, de lhes desejar o melhor, de felicitar os pais e avós. Não ficamos insensíveis.

O Movimento de Oração Mundial com o Papa, vulgarmente conhecido, entre nós, por Apostolado da Oração, ao comentar este texto exorta cada leitor a que abra o cofre do seu coração e ofereça o que tem de mais precioso, a que viva a sua relação filial com Deus, a que valorize a sua humanidade, frágil e pecadora, amada e perdoada por Deus, nosso Salvador. E enumera as intenções de oração do Papa Francisco para os meses de 2019.

De forma breve, aqui as deixamos: Os jovens na escola de Maria; o tráfico de pessoas e o seu acolhimento generoso; o reconhecimento dos direitos das comunidades cristãs perseguidas; os médicos e seus colaboradores em zonas de guerra; a Igreja em África como fermento de unidade e sinal de esperança; o estilo de vida dos sacerdotes e a sua acção junto dos pobres; a integridade da justiça; as famílias como laboratórios de humanização: a protecção dos oceanos; a primavera missionária na Igreja, sobretudo na África e na Ásia; o diálogo e a reconciliação no Oriente Próximo; o futuro dos mais jovens.

Oferecer a nossa oração e dar o nosso contributo pois quem encontra o Deus Menino abre-se ao seu amor e faz-se missionário da esperança, agente de transformação libertadora, contemplativo da sua obra na criação e na harmonia do universo. A começar por si, o espaço mais próximo e acessível de intervenção.

São Leão Magno, na festa da Epifania, lembra aos cristãos que “a docilidade da estrela nos exorta a imitar o seu exemplo. Isto é, a servir na medida das nossas possibilidades esta graça que chama todos os homens para Cristo. Animados por este zelo, deveis empenhar-vos, caríssimos irmãos, em serdes úteis uns aos outros, a fim de que brilheis como filhos da luz no reino de Deus, no qual se entra, graças à integridade da fé e às boas obras”.

Os Magos não se deixaram ludibriar por Herodes. O encontro com Jesus proporciona-lhes uma nova sabedoria. Por isso, regressam às suas terras por outro caminho. Querem partilhar a experiência feita e anunciar na sua cultura o valor da Boa Nova, do Evangelho.

Que estímulos nos deixam! Que apelo nos fazem! Ousemos viver 2019 com esta atitude missionária assumida.

 

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