Jornadas de Formação do Clero | dia #02
Jornadas de formação do clero 2020
“Famílias em mudança: problemáticas, desafios e caminhos”
A parte da manhã do segundo dia de formação foi iluminada pela reflexão do Pe José Augusto Rodrigues, diretor do Departamento da Pastoral Familiar da Diocese de Leiria-Fátima. Na sua intervenção procurou ajudar a ver a problemática da fragmentação da família à luz de 5 ideias-chave da Exortação Amoris Laetitia:
1. O conceito de Tradição viva na qual se inscreve a Exortação, que não procura nenhuma rutura com o passado e nem se propõe a apresentar novas realidades dogmáticas (cf. AL2). A Igreja é um organismo vivo, como relembra o Cardeal W. Kasper, que vai procurando sempre a melhor resposta em cada tempo; não guarda apenas um tesouro, mas procura reler-se à luz das exigências da fé, hoje. A mensagem da AL necessita sempre de ser entendida à luz da Tradição e das novidades que o Espírito vai suscitando na vida da Igreja.
2. O conceito de misericórdia que é o tema do Ano Jubilar no qual o documento é publicado. Os textos de abertura e encerramento do Ano da Misericórdia ajudam a entender que a misericórdia é o motor a partir do qual se entende a ação de Deus e da Igreja em favor das famílias. A misericórdia é terá que ser entendida também como forma própria de vida e relação em família e como forma de a Igreja olhar também para as famílias.
3. O conceito de caminho que se vai repetindo ao longo de toda a Exortação como um percurso e um processo ao longo de toda a vida. Em cada matrimónio há uma promessa (consentimento) que deverá cumprir-se e alimentar-se todos os dias.
4. O conceito de gradualidade pastoral que aprofunda também a ideia de caminho. Existem etapas de crescimento e uma gradualidade na descoberta de um amor fiel e fecundo. Não está tudo assumido à partida e para sempre, mas é preciso tempo e, no tempo, acreditar que é possível aperfeiçoar e aprender permanentemente que é possível um caminho feliz.
5. O conceito de discernimento pastoral é uma das ideias mais importantes para ler a AL. O discernimento espiritual ou pastoral vai muito para além de um percurso feito em situações de divorciados em nova união, e também não é uma substituição da consciência pela lei ou pela relativização moral. Se discernir implica procurar, encontrar e eleger (método inaciano), este dá à misericórdia o direito de cidadania porque suscita o seguimento que acontece em primeiro lugar, na voz da consciência e em diálogo com o amor de Deus. O pastor é aquele que ajuda a formar a consciência e não aquele que se substitui à consciência. O discernimento olha para além do problema, tende a centrar-se mais no caminho a fazer e a eleger e para a pessoa que o percorre. Por isso, a partir da misericórdia de Deus, ele é um convite constante à conversão, a um caminho de exigência que dispensa respostas rápidas.
Num segundo momento dos trabalhos da manhã, as ideias-chave foram distribuídas para um trabalho em grupo de arciprestados. Destacaram-se as dificuldades que vamos tendo em assumir princípios de gradualidade, perspetiva de caminho e assumir um acompanhamento efetivos de situações de fragilidades que suscitem um discernimento pastoral. Há uma mudança de paradigma e conversão pastoral para a qual não fomos formados e que a lógica pastoral, por vezes, dificulta na gestão de horários e disponibilidade para uma atitude de acompanhamento. Quem nos aborda, muitas das vezes, também exige pressa em respostas e soluções, havendo um fechamento a caminhos e percursos de acompanhamento. Também se apresentou como tensa a relação entre o princípio de misericórdia e o cumprimento da lei.
A parte da tarde foi dedicada ao conhecimento de uma experiência recente de Centro de Apoio à Família, na Diocese de Leiria-Fátima. O Pe José Augusto, como responsável deste Centro, apresentou os seus princípios orientadores, destacando que esta proposta ajuda sobretudo a identificar e definir problemáticas apresentadas e oferece um aconselhamento de
curta duração. Conheceram-se os seus objetivos, metodologia, estrutura, funcionamento e principais apoios desenvolvidos, desde a área psicológica, social, jurídica, médica e espiritual.
O dia de formação terminou com a partilha da proposta do Centro de Preparação para o Matrimónio, enquanto movimento da Igreja que se propõe a preparar os noivos para o matrimónio e para um projeto familiar.