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ESCUTAI, JESUS, O MEU FILHO AMADO, DIZ-NOS DEUS 

A CAMINHO DA PÁSCOA: DOMINGO II DA QUARESMA 

ESCUTAI, JESUS, O MEU FILHO AMADO, DIZ-NOS DEUS 

Georgino Rocha 

A exortação é dirigida às futuras “colunas” da Igreja – Pedro, Tiago e João – e, nelas, aos discípulos e aos cristãos de todos os tempos. A voz que se faz ouvir é de Deus Pai, profundamente envolvido na “aventura” em curso, protagonizada pelo Nazareno perturbador. O Filho amado, a quem é preciso escutar, é Jesus que se deixa transfigurar, antecipando a dimensão futura do itinerário vital, recorrendo à brancura irradiante das vestes. Os discípulos fazem uma experiência de bem-estar, de conforto interior, de encontro pessoal inesquecível. Mc 9, 2-10. 

“Está claro que este relato, no segundo domingo da Quaresma, aponta claramente à ressurreição de Jesus, afirma Castillo. O relato sugere-o ao apresentar a Jesus transfigurado, deslumbrante. E Jesus faz referência expressa à sua própria ressurreição de entre os mortos. Estamos, portanto, perante um evangelho de vida que transcende a morte e pretende manter viva a esperança. A Palavra do Pai di-lo claramente, vinda da nuvem, que escutassem só a Jesus. O que significa dar as máximas garantias de credibilidade ao que Jesus ia dizer aos discípulos”.

Marcos descreve o episódio ocorrido num alto monte e, com reminiscências de outras passagens bíblicas, elabora uma excelente catequese sobre o esperado Messias. Situa a transfiguração num momento crucial da missão de Jesus: Fá-lo sentir o fracasso devido à incompreensão do povo que o deseja político e miraculoso; à hostilidade das autoridades que não o querem tão politizado; ao endurecimento do coração dos discípulos que não deixam de pensar num messias poderoso; a tentação “bate” forte e mostra-se, de modo emblemático, no deserto para onde Jesus é impelido pelo Espírito. E hoje como se veste a tentação para nos pôr à prova?

“Seis dias depois”, precisa Marcos, de ter testado a aceitação da sua mensagem e o grau de adesão à sua pessoa em Cesareia de Filipe e verificado a confusão predominante, o Nazareno dá um passo qualitativo em frente. E provoca a cena da transfiguração, em que as suas credenciais são de novo apresentadas de forma solene e definitiva. “Este é o meu Filho amado. Escutai-O”. A tríada, que é testemunha, faz uma experiência de felicidade que supera o desencanto sofrido. O tempo impõe as suas regras e a opção de silêncio sai reforçada até que aconteça a ressurreição. Então surgirá o júbilo pascal que deve ser proclamado até aos confins do mundo.

Senhor transfigurado, mostras a tua humanidade que “esconde” a beleza da tua divindade; irradias luz para os teus discípulos serem luz do mundo; comunicas serenidade e harmonia para o ambiente que te rodeia e a criação que nos confiaste. Correspondes ao desejo do nosso coração que procura a vossa face. Obrigado, Senhor!

Escutar Jesus, eis a ordem do Pai que tinha falado muitas vezes. Agora é o seu Filho muito amado que tem a Palavra, ou melhor, é a Palavra de Deus.  “Escutar o Filho” significa assumir os seus sentimentos filiais para com Deus Pai e fraternais para com os irmãos na fé e na humanidade.

Escutar a Deus é ouvir o grito dos empobrecidos e desviar-se das sentenças “loucas” dos que persistem em manter uma cultura de morte, uma ordem social e económica injusta e ofensiva, uma religião de conforto individualista e “descafeinada”; em manter a perversidade no acesso e comércio às vacinas antivírus covid 19 ou outros.

Jesus usa uma pedagogia que a Igreja aconselha, sobretudo no tempo quaresmal: distanciar-se para estar mais próximo, fazer silêncio para melhor poder escutar, subir e contemplar a verdadeira grandeza humana para descer rapidamente e “arregaçar as mangas” em benefício dos que vêem espezinhada a sua dignidade, privar-se voluntariamente do que dá conforto para estar mais disponível e ter bens para partilhar, saborear desde já a alegria que a cruz do sofrimento por amor comporta em si mesma e torna contagiante. Viver a esperança pascal de que nos fala o Papa Francisco.

Convido à esperança que «nos fala duma realidade que está enraizada no mais fundo do ser humano, independentemente das circunstâncias concretas e dos condicionamentos históricos em que vive. Fala-nos duma sede, duma aspiração, dum anseio de plenitude, de vida bem-sucedida, de querer agarrar o que é grande, o que enche o coração e eleva o espírito para coisas grandes, como a verdade, a bondade e a beleza, a justiça e o amor. (…) A esperança é ousada, sabe olhar para além das comodidades pessoais, das pequenas seguranças e compensações que reduzem o horizonte, para se abrir aos grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna». Tutti Fratelli/Todos Irmãos 55.


 

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