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XXIX Domingo do Tempo Comum – Ano B

Breve comentário

            O texto imediatamente antes deste apresenta Jesus a caminho de Jerusalém, à frente dos discípulos, a quem faz o 3º anúncio da paixão: «Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei, e eles vão condená-lo à morte e entregá-lo aos gentios. E hão-de escarnecê-lo, cuspir sobre Ele, açoitá-lo e matá-lo. Mas, três dias depois, ressuscitará». Os discípulos nada dizem, mas seguem Jesus com medo, comenta o evangelista. 

Após o 1º anúncio foi apresentada a incompreensão de Pedro; a seguir ao 2º anúncio vimos a incompreensão do grupo que discute o primeiro lugar. A falta de compreensão dos discípulos parece amentar à medida que se vão aproximando de Jerusalém, tal como sugere o texto de hoje com a incompreensão dos irmãos Tiago e João. Estes eram filhos de Zebedeu, conhecidos como «filhos do trovão», e, juntamente com Pedro, eram os discípulos privilegiados, presentes em momentos particulares da vida de Jesus (a cura da filha de Jairo, a transfiguração; mais tarde na oração no Getsémani…). Por isso, parecem querer aproveitar-se desta sua proximidade e apresentam a Jesus o seu pedido com certa arrogância.

           Estes discípulos já entenderam que o destino de Jesus terá de passar pela humilhação, pelo sofrimento e até pela morte, mas pensam apenas no que acontecerá a seguir. Jesus já tinha falado no tempo em que «vier na glória de seu Pai, com os santos Anjos» (Mc 8,38). Os mestres judeus falavam do Messias que um dia virá «sentar-se no seu trono de glória», tendo os justos a seu lado.

Tiago e João já não querem ir apenas para um reino terreno, mas também para a glória eterna, ao lado de Jesus. Sentar-se à direita e à esquerda é participar do poder nomeadamente o poder de julgar concedido ao Filho do Homem. Não pedem um favor, mas exigem aquilo que consideram como um direito seu: «queremos que nos faças…».

Jesus diz que a condição para participar na sua glória é partilhar o seu cálice e o seu batismo.  O cálice é uma figura muito frequente do Antigo Testamento. É o cálice que Deus dá a cada um, ao seu povo ou às nações em geral. O cálice é oferecido e deve ser esvaziado. É imagem do destino, bom ou mau. Neste último caso é chamado também «cálice da sua raiva» (Is 51,17), «cheio de vinha da ira» (Is 25,15), e significa desventura, infelicidade e indica ao mesmo tempo o juízo divino e punição destinada aos maus. Num segundo momento o cálice significará a paixão e a morte do mártir. Assim, ao falar de cálice, Jesus «indica não só a sua paixão e morte, mas também o juízo divino que toma sobre si mesmo em lugar dos malfeitores. O batismo é lido em sentido análogo. Frequentemente no Antigo Testamento os sofrimentos, as perseguições e as adversidades são indicadas como inundações que ameaçam engolir uma pessoa. Cálice e batismo indicam, portanto, o destino de morte e de sofrimentos que Jesus está para enfrentar.

De maneira voluntariosa, os dois discípulos até dispostos a tudo isto embora, poucos capítulos à frente, o evangelista refira: «Todos, abandonando-o, fugiram» (Mc 14,50). Jesus esclarece também que ninguém está em condições de exigir lugares especiais. Aquilo que Tiago e João querem como direito é algo que é concedido gratuitamente por Deus.                     

A natural indignação do resto do grupo mostra, por um lado, que ainda não compreenderam a pessoa e a missão do Mestre e oferece, por outro, a ocasião a Jesus de dar mais uma lição sobre os primeiros lugares. As relações na nova comunidade nada têm a ver com os esquemas dos chefes terrenos. Apenas conta o sentido de serviço, tal como Jesus faz com os seus. Ele não espera que o grupo de discípulos o sirva, como acontece com os outros mestres. A sua atitude perante os outros é o modelo capital para aqueles que o seguem: servir e dar a vida pelos outros.

P. Franclim Pacheco

Diocese de Aveiro


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