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XXXII Domingo do Tempo Comum – Ano B

Breve comentário

A página do Evangelho deste Domingo apresenta-nos dois textos aparentemente diferentes e sem ligação um com o outro.

Desde o início do seu evangelho, Marcos mostra os escribas como opositores de Jesus, praticamente presentes em todas as polémicas. Apenas tem uma exceção em 12,28-34, que apresenta um escriba «sincero».

Jesus é um grande observador. Não é mais um que olha sem ver as pessoas e as coisas como são realmente, mas é capaz de captar os verdadeiros sentimentos de cada um, consegue revelar as intenções mais profundas e pôr à luz o que muitas vezes fica escondido. Não se deixa enganar pelos gestos religiosos vistosos dos escribas e fariseus. Por detrás da sua vida religiosa aparentemente íntegra, Jesus vê a sua maldade e afastamento dos verdadeiros ensinamentos de Deus.

Os escribas foram progressivamente ganhando importância na vida do povo hebreu: como doutores da Lei, eram intérpretes oficiais da Lei de Deus, e proferiam as sentenças nos tribunais.

Vestiam habitualmente de forma diferente, a dar nas vistas, pavoneando-se ostensivamente nos lugares públicos, gostando de ser saudados de modo especial, com toda a reverência. Porque se consideravam importantes, apareciam à frente em todos os lugares de oração e banquetes para que eram sempre convidados. Muitos servem-se da sua importância, aliada à ingenuidade das pessoas, para explorar os mais pobres, a pretexto de esmolas ou para os defenderem nos tribunais. E, como se não chegasse, fingem fazer longas orações para se mostrarem como homens santos.

A segunda parte do texto é uma contraposição. No Templo de Jerusalém havia a sala do Tesouro e aí, para quem queria fazer ofertas, estavam as caixas para as ofertas; ao lado de cada uma encontrava-se um sacerdote a recebê-las. Isto fazia-se publicamente e, portanto, um observador podia fazer uma ideia de quanto oferecia cada um.

            O Tesouro do templo ficava no Pátio das Mulheres. Aí estavam 13 cofres, ou «trombetas», onde as contribuições eram depositadas. Os cofres eram chamados trombetas por causa do seu formato: estreitos em cima e largos em baixo. O dinheiro de cada cofre tinha um uso específico.

            Os dois primeiros cofres eram destinados ao imposto do templo, um para o ano corrente e o outro para o ano anterior. Os cofres 3 a 7 serviam para juntar fundos para os valores estabelecidos para rolas, pombas, lenha, incenso e vasos de ouro, respetivamente. Se o ofertante tivesse reservado um valor maior do que o estipulado para uma oferta, ele depositava o excedente num dos cofres restantes. O cofre 8 era para o dinheiro que sobrava das ofertas pelo pecado. Os cofres 9 a 12 guardavam os fundos que sobravam das ofertas pela culpa, dos sacrifícios de aves, das ofertas dos nazireus e das ofertas dos leprosos purificados. O cofre 13 era para contribuições voluntárias.

A oferta da viúva é realmente miserável consistindo em duas moedinhas judaicas, as de valor mais baixo. Marcos procura traduzir para os seus leitores romanos, fazendo o câmbio para que eles entendessem: valia um quadrante.  

À vaidade, à ostentação, à riqueza, ao fingimento, o evangelista contrapõe um modelo diferente: uma viúva pobre, que na sociedade da época representava o máximo da indigência e da falta de proteção a todos os níveis. Ela não chamou a atenção de ninguém, agiu discretamente, apresentando-se como uma autêntica discípula de Jesus, mesmo sem o conhecer. Não ofereceu muitas moedas, mas poucas, porém tudo o que tinha. Manifestou, desta forma, todo o seu empenho de vida e todo o seu amor a Deus. Por isso, deu muito mais que todos os outros.

P. Franclim Pacheco

Diocese de Aveiro


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