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LEVANTA-TE E CAMINHA…

Carta para o Plano Pastoral 2022-2023

LEVANTA-TE E CAMINHA…

O Plano Pastoral da diocese de Aveiro, para o ano de 2022-2023, inserido num triénio pastoral que teve de ser adaptado devido à pandemia que a todos afetou, tem como lema “Levanta-te e caminha!” (Mc 5,35-42). Nos seus itinerários formativos e pastorais, a temática que nos vai ocupar ao longo deste ano, e que vem na sequência dos temas dedicados ao Batismo e à Família, privilegia âmbitos que ajudem a definir, promover e implementar o espírito sinodal como forma de ser e edificar a Igreja de Jesus, neste tempo e nesta cultura: Jornada Mundial da Juventude, espiritualidade vocacional e estilo de comunicação. A ação pastoral deve configurar-se como uma fonte de vida, de que Jesus foi e é o modelo e a fonte para todo o ser humano.

1. Pela Palavra, Jesus dá-nos a vida.

Jesus não é indiferente às realidades que marcam profundamente a condição humana. Ele está presente no meio de nós e em nós, como parou diante da filha morta de Jairo. Jesus ordena: “Eu te digo, levanta-te!” (Mc 5,41-42). E devolve a menina viva à família. Jesus é o Senhor da vida e da morte, o próprio Filho de Deus vivo e verdadeiro, que veio partilhar a vida, as dores e os sofrimentos com o seu povo. Ele é a grande luz de esperança.

O que aconteceu com a menina, acontece connosco. Cristo ressuscitado quer fazer-nos participantes da novidade da sua ressurreição. «Cristo vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem, fica novo, enche-se de vida. Por isso as primeiras palavras, que quero dirigir a cada jovem cristão, são estas: Ele vive e quer-te vivo!» (CV1). À sua ordem “Levanta-te… e caminha!”, a jovem levantou-se imediatamente e pôs-se a andar. Jesus não a levanta, mas capacita-a para que ela mesmo se levante e caminhe. Jesus, vivo e ressuscitado, caminha ao nosso lado. Ele é o companheiro de viagem que encontra formas de vir ao nosso encontro, mesmo se nem sempre somos capazes de O reconhecer e de encher o nosso coração de esperança. Vivemos da Palavra de Deus e da Eucaristia. É através da Palavra de Deus, escutada, meditada, partilhada e acolhida no coração, que Jesus nos indica caminhos, nos aponta perspetivas novas, nos dá a coragem de continuar, depois de cada fracasso, a construir uma cidade onde a beleza resplandece. A comunidade cristã é o lugar por excelência de evangelização, porque nela nos encontramos com os irmãos, com o Ressuscitado no meio de nós.

2. Jesus capacita-nos para a caminhada.

Num tempo marcado por uma cultura sem limites, “caminhar”, e “caminhar juntos”, torna-se uma exigência e uma necessidade para dar credibilidade e eficácia às iniciativas que a nossa diocese de Aveiro vai tendo. Há um apelo a caminhar, à renovação, a assumir o próprio Batismo. O grande desafio é, pois, testemunhar a alegria e a vontade em viver os desafios do Evangelho num mundo que não se conhece e numa cultura que não se compreende.

Tendo presente a síntese diocesana do processo de consulta sinodal, a necessidade de caminhar juntos exige que desenvolvamos uma atitude de escuta e de compromisso, que cada um não tenha em vista apenas os seus interesses, mas os interesses de todos. Deus pede-nos para nos deixarmos amar por Ele; para trabalharmos em comunhão e com ousadia, com o desejo de o servir e servir o povo de Deus. Somos chamados a fazer crescer a colaboração no testemunho e na missão. Este caminho é percorrido seguindo Cristo como seus discípulos, que nos estimula, nos lança para uma vida melhor e mais bela. Caminhemos para sairmos de hábitos e rotinas, dos nossos lugares de conforto, para sairmos de nós mesmos e dos nossos interesses, para reconhecermos o caminho que conduz a uma vida plena. O compromisso desinstala. Sai ao encontro daqueles que se sentem mais distantes de Deus e da Igreja, daqueles que têm medo e são indiferentes, daqueles que deixaram esmorecer a sua fé, daqueles que tropeçaram por tua causa! “O Senhor chama-te também a ti, chama-te para fazeres parte do seu povo e fá-lo com grande respeito e amor” (EG 113) por ti, por cada um de nós. Cristo conta com todos, mas conta com os jovens para irradiar luz e esperança, porque quer contar com a sua coragem, frescor e entusiasmo. 

Os sinais dos tempos são também a linguagem de Deus, mas o seu discernimento exige capacidade de interpretação dos acontecimentos à luz da fé. Da consulta realizada na Diocese, há uma ideia sempre presente: não ter medo de arriscar quando se trata de fazer opções pastorais. Este é, no fundo, um desafio que está ligado a um apelo. Se a Igreja é Povo de Deus, então o que a todos diz respeito por todos deve ser refletido em ordem ao discernimento e à tomada de decisões. A comunhão constrói-se em processo, no modo como se tomam determinadas atitudes e como se decide. A comunhão gera-se também na comunicação, pelo que é conveniente definir bem o que se quer transmitir.

A comunhão acontece quando a comunicação é encontro e diálogo. Por isso, é importante promover a cultura do encontro como oásis de esperança e de humanidade. Como refere o Papa Francisco na Fratelli Tutti, “precisamos de comunicar, descobrir as riquezas de cada um, valorizar aquilo que nos une e olhar as diferenças como possibilidades de crescimento no respeito por todos” (FT 143). Isso implica um diálogo paciente e confiante, que nasce do encontro. Não bastam as relações digitais que dispensam da fadiga de cultivar uma verdadeira amizade. “Fazem falta gestos físicos, expressões do rosto, silêncios, linguagem corpórea e até o perfume, o tremor das mãos, o rubor, a transpiração, porque tudo isso fala e faz parte da comunicação humana” (FT 43) – daí a necessidade promover uma cultura do encontro e do diálogo, que facilita a comunicação humana autêntica.

Os conselhos de participação que a Diocese propõe a todas as paróquias devem existir em todas as comunidades cristãs. As equipas de pastoral arciprestal, onde a pastoral é pensada e decidida, compostas pelos párocos e leigos de todas as paróquias do arciprestado, devem ser o motor da renovação e participação pastoral que o Papa Francisco pede a toda a Igreja com a caminhada sinodal que esta tem vindo a realizar. O contexto em que vivemos impele-nos, também, a repensar o como anunciar.

3. Levanta-te… e caminha! 

Os jovens

Este mesmo convite é feito aos jovens e a todos nós. Todos somos convidados a ‘caminhar’, para viver o chamamento do Senhor e para anunciar a boa notícia. Porque os jovens são um grupo social cada vez mais afastado da Igreja, não basta dizer que é preciso apostar neles. Constata-se uma verdadeira necessidade de investirmos na arte do acompanhamento e do discernimento dos jovens. É preciso ir ao seu encontro, escutá-los, compreender a sua linguagem, preocupações e fazer-lhes propostas com sentido, com simplicidade e com beleza. Reduzir a ação pastoral com jovens à preparação do sacramento do Crisma é caminho que não dá frutos. Se todo o momento pode ser um tempo favorável, a Jornada Mundial da Juventude deve ser oportunidade para reanimar a pastoral juvenil nas nossas comunidades. Vivemos tempos desafiantes em ordem a promover uma maturidade afetiva em Cristo, que gere uma espiritualidade de comunhão e uma pastoral de atração e de contágio.

Como pastor da Diocese, vou procurar acompanhar de perto as atividades com os jovens que se vão desenrolar ao longo deste ano pastoral. Sublinho apenas alguns dos momentos mais significativos: no mês de outubro, encontro em cada um dos arciprestados com os COAs e com os COPs; em novembro, a celebração do dia diocesano da juventude; em março, a peregrinação dos símbolos das Jornadas à nossa diocese de Aveiro; na última semana de julho e na primeira de agosto, a Jornada Mundial da Juventude com os dias nas dioceses e o grande encontro com o Papa Francisco em Lisboa.

Procuremos que toda e qualquer proposta de caminhada com os jovens seja vivida na abertura à comunidade e conduza ao compromisso com a Igreja e com o mundo – capazes de contagiar o mundo com a Boa Nova do evangelho de Cristo ressuscitado.

As vocações de consagração

Inseridos no dinamismo de uma Igreja de comunhão, se queremos ser sinal duma Igreja à escuta e a caminho, nas paróquias, nos movimentos apostólicos e nos diferentes carismas de vida consagrada, há que definir critérios e fazer opções pastorais. Temos a tarefa e o dever de criar condições para que em todas as comunidades cristãs, a partir da consciência batismal de cada um dos seus membros, se desenvolva uma verdadeira cultura vocacional, uma vez que a vocação é uma realidade norteadora de toda a vida. Falar de vocação significa falar de busca e de procura. A Igreja e o mundo necessitam de uma renovada reflexão sobre as vocações, promover uma pastoral vocacional que saiba mostrar o fascínio da pessoa de Jesus e do seu chamamento. É preciso ousar propor, e propor com ousadia, vocações para o ministério ordenado e de consagração, apresentar a todos o anúncio e a proposta vocacional. Estou ciente da riqueza que constitui, para a comunidade eclesial, o dom da vida consagrada na variedade dos seus carismas e das suas instituições, e dou graças a Deus pelas Ordens e Institutos religiosos dedicados à contemplação ou às obras de apostolado, pelos Institutos seculares, pelas Sociedades de Vida Apostólica e por outras formas de consagração, como também por todos aqueles que, no segredo do seu coração, se dedicam a Deus por uma especial consagração, mas “vós não tendes apenas uma história gloriosa para recordar e narrar, mas uma grande história a construir. Olhai o futuro, para o qual vos projeta o Espírito, a fim de realizar convosco ainda grandes coisas” (VC 110).

Muitas das dificuldades, no que respeita às vocações, estão ligadas a uma crise da família e a um conhecimento insuficiente da Igreja. Garantir a formação será uma urgência pastoral. Sendo a vocação comunicação, vida de comunhão e de participação, é necessário fazer convergir todos os dons e carismas para a construção do Corpo de Cristo e para a missão da Igreja no mundo, sentindo-se convocados pelo Pai para o serviço ao Reino. No esforço de entender o específico de cada vocação, é fundamental apresentar sempre a vocação como relação, como comunhão, valorizando a experiência e a espiritualidade profundamente cristológica e eclesial (cf. Jo 1,39; Mc 3,14). É muito importante que, paralelamente com a palavra da Igreja, haja o testemunho e o compromisso das famílias cristãs.

Sem vida comunitária não é possível o crescimento de novas vocações de consagração. A experiência dos primeiros cristãos é fulcral no campo vocacional: “A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém considerava seu o que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum” (At 4,32). Os desafios para este ano vocacional pedem que a oração pelas vocações através do Mosteiro Invisível Vocacional (MIV) e o Animador vocacional existam não só em todas as paróquias, mas também em todas as pequenas comunidades espalhadas pela Diocese. 

Neste sentido, o Serviço das vocações, Acolhimento e Formação espiritual, procurará divulgar e promover encontros de conhecimento e oração nas comunidades paroquiais. Da mesma forma, não podemos deixar de salientar os encontros Cais, com o objetivo de ajudar os jovens a interrogarem-se sobre o sentido da vida, e os dias abertos no Seminário, ao longo do ano, dirigidos às várias faixas etárias. Para os maiores de dezoito anos, o Seminário proporá os encontros Talia.

Ninguém está dispensado desta missão de primeira necessidade para a Igreja. Somos uma Diocese que no último censo cresceu em população e isto deve-nos empenhar na cultura vocacional do despertar, ajudar a crescer e partilhar os dons e os carismas com que Deus enriquece a nossa Igreja de Aveiro.

Pode servir-nos de inspiração a figura de Santa Joana Princesa, padroeira da JMJ, e de Maria, exemplo de serva e discípula pedagoga da evangelização, que mal soube que a sua prima Isabel precisava dela, não pensou nos seus próprios projetos, mas dirigiu-se à pressa à montanha (Lc 1,39). Como Maria e a nossa Padroeira, sem demora e sem medo, sejamos cada dia portadores da sua alegria e do seu amor, respondendo às necessidades que nascem da sociedade e da Igreja do nosso tempo.

É nesta direção que a diocese de Aveiro procurará caminhar ao longo deste ano pastoral. Desejo que nos sintamos sempre mais Igreja em caminho. Que renasça em cada um de nós o amor pela comunidade e o ardor pelo anúncio. Façamos juntos o caminho!

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Aveiro, 3 de setembro de 2022, (Memória Litúrgica de São Gregório Magno)

António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo e amigo.


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