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Missa Vespertina da Ceia do Senhor – Homilia

1. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Jo 13, 1) 

        Começamos a leitura do Evangelho de João com a citação: «Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim», afirmando que o amor de Jesus por nós não tem limites e ama-nos até ao ponto de dar a sua vida por nós. É neste contexto que temos de afirmar, com toda a força da nossa fé, aquilo que constitui o centro e o seu núcleo fundamental: «Deus ama-te, Cristo é o teu salvador, Ele vive e o Espírito Santo enche o nosso coração com a presença de Cristo ressuscitado» (CV 130).

Com o gesto do lava-pés somos convidados a reconhecer Jesus nos pobres e nos últimos. É santidade… ser pobre no coração; reagir com humilde mansidão; saber chorar com os outros; buscar a justiça com fome e sede; olhar e agir com misericórdia; manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor; semear a paz ao redor; abraçar diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos traga problemas. No capítulo 25 do Evangelho de Mateus (vv. 31-46), Jesus detém-se na bem-aventurança da misericórdia. Neste texto, encontramos uma regra de comportamento com base na qual seremos julgados.

O grande desafio é reconhecermos Cristo nos pobres e atribulados. “Não podemos propor-nos um ideal de santidade que ignore a injustiça deste mundo, onde alguns festejam, gastam folgadamente e reduzem a sua vida às novidades do consumo, ao mesmo tempo que outros se limitam a olhar de fora enquanto a sua vida passa e termina miseravelmente” (G et Ex 101).

O Ano Jubilar, que vamos iniciar no próximo dia 12 de maio, é um tempo para pormos em prática valores sociais e religiosos, louvarmos a Deus, celebrando com alegria os seus gestos salvadores, reconhecendo que tudo recebemos das suas mãos e que nós não passamos de administradores dos seus bens. Para além da revalorização do tempo, o Jubileu, tal como é descrito no Antigo Testamento, pretende a conversão, uma significativa purificação das relações que visava reconstruir o tecido relacional, apenas possível mediante a libertação e o perdão. 

2. Sacerdócio e Eucaristia

Os sacerdotes, em virtude da consagração que recebem pelo sacramento da Ordem, são enviados pelo Pai, através de Jesus Cristo, para viver e atuar, na força do Espírito Santo, ao serviço da Igreja e para a salvação do mundo. Anunciam a todos a palavra de Deus, exercem o seu ministério sagrado principalmente no culto eucarístico e, muito especialmente, exercem o ministério da reconciliação e do alívio, em favor dos fiéis arrependidos e dos doentes, e apresentam a Deus as necessidades e as orações dos fiéis.

Vive o mistério que é colocado em tuas mãos! É este o convite e também a interpelação que a Igreja dirige ao sacerdote no rito da sua ordenação. Este não tem apenas a missão de guardar a comunidade, mas sobretudo de a animar pastoralmente. A Palavra de Deus e a palavra da Igreja são tudo na sua vida e na sua missão. Deve «viver à altura do Evangelho de Jesus Cristo» (Fl 1,27), falar ao coração das pessoas e anunciar-lhes as alegrias do Reino.

Que a celebração dos mistérios desta noite, a Eucaristia, a instituição do sacerdócio e o mandamento da caridade sejam iluminados pelas palavras de S. Leão Magno ao meditar estes mistérios que hoje celebramos: «Para praticar o bem da caridade, amados filhos, todo o tempo é próprio. Contudo, estes dias da Quaresma, a isso nos exortam de modo especial. Se desejamos celebrar a Páscoa do Senhor com o espírito e o corpo santificados, esforcemo-nos o mais possível por adquirir essa virtude que contém em si todas as outras e cobre a multidão dos pecados.

Ao aproximar-se a celebração deste mistério que ultrapassa todos os outros, o mistério do sangue de Jesus Cristo que apagou as nossas iniquidades, preparemo-nos em primeiro lugar mediante o sacrifício espiritual da misericórdia; o que a bondade divina nos concedeu, demo-lo também nós àqueles que nos ofenderam.

Seja, neste tempo, mais larga a nossa generosidade para com os pobres e todos os que sofrem, a fim de que os nossos jejuns possam saciar a fome dos indigentes e se multipliquem as vozes que dão graças a Deus. Nenhuma devoção dos fiéis agrada tanto a Deus como a dedicação para com os seus pobres, pois nesta solicitude misericordiosa ele reconhece a imagem da sua própria bondade» (S. Leão Magno, sermão 10, Quadragésima).

Aveiro, 6 abril 2023.

António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro

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