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Ano Jubilar da Catedral e Santa Joana Princesa

Iniciamos hoje o Ano Jubilar concedido pelo Papa Francisco à nossa Diocese de Aveiro a propósito dos 600 anos do início da construção desta Igreja do convento dominicano de Nossa Senhora da Misericórdia e que, desde 1938, é a Catedral da nossa Diocese.

Estamos, igualmente, a celebrar os 550 anos da vinda da nossa padroeira Santa Joana Princesa, ou Joana de Portugal ou Joana de Avis, para a vila de Aveiro em 30 de julho de 1472. A sua vinda para o mosteiro de Aveiro só se entende porque nesta vila tinha sido fundado, em 1423, um convento dominicano masculino. As suas fundadoras – D. Brites Leitoa e D. Mícia Pereira – tinham sido acompanhadas espiritualmente pelos frades dominicanos e no momento de fundarem um convento de clausura feminino optaram por ser da ordem de São Domingos.

O que é um Ano Jubilar?

O jubileu é um acontecimento festivo de júbilo sob a ação do Espírito Santo. Para melhor vivermos este acontecimento, convido a refletir sobre o sentido de um jubileu. A palavra jubileu encontra a sua raiz etimológica no hebraico bíblico yabal, que significa conduzir, levar, transportar, em procissão, as ofertas e os cativos, ou oferecer os dons sob a forma de cortejo.

O ano jubilar é, assim, um tempo para pormos em prática valores sociais e religiosos, louvarmos a Deus, celebrando com alegria os seus gestos salvadores, reconhecendo que tudo recebemos das suas mãos e que nós não passamos de administradores dos seus bens. O jubileu não trata apenas de uma questão teológica, de falar de Deus ao ser humano, mas de um convite e um tempo para refletir – um tempo de memória e de metanoia/conversão, mas também de esperança e confirmação de identidade.

Ao celebrarmos a solenidade da nossa padroeira gostava de aprofundar convosco duas dimensões da sua vida e que devem ser fonte de inspiração para a nossa.

1. Oração

A entrada no mosteiro, profundamente desejada, proporciona aquela valorização do mundo interior que viabiliza a intimidade com Deus. Uma união que se exercitava, precisamente, na oração. Para se adentrar nesta arte, muito contribuiu o crescimento, em seu coração, do desprezo e do aborrecimento pelo mundo, que no mosteiro vai consagrar. Anteriormente, ainda no seu paço, onde tinha um oratório, recolhia-se amiúde apartando-se de suas donzelas e damas. Foi aí que, com um seu capelão, aprendeu a rezar o ofício divino segundo o Costume Romano (fol. 51 r a).

2. Cumprimento da vontade de Deus

O cumprimento da vontade de Deus, segundo se recolhe do testemunho deixado no Memorial, passa por um discernimento contínuo. A infanta D. Joana duvida entre a razão de Estado e a sua vocação à vida religiosa. Por um lado, pedia e desejava como único esposo a Cristo, por outro lado, reconhecendo a sua condição real, via-se envolvida nas políticas matrimoniais do tempo.

Uma das características da espiritualidade da infanta relaciona-se com a sua relação com as Escrituras e com o estudo. A testemunhá-lo está este específico testamento espiritual: «fica-vos muita e boa livraria com que podereis tomar consolação e prazer espiritual e assim aquele pomar para espairecerdes; não deis lugar algum a murmurações e juízos errados que sempre trazem muito dano; da obediência e sujeição haveis irmãs sempre de tirar muito proveito espiritual (fol. 96 r a)».

A santidade interpela a vida cristã, porque ela é um reflexo da beleza de Deus no mundo. Se Jesus é o rosto visível do Deus invisível (Col 1, 15), os santos são o rosto visível do amor de Deus por nós.

O Reino de Deus é um autêntico tesouro e uma pérola de grande valor, pelo qual vale a pena lutar e vender tudo para o conseguir. Aqueles homens que vendem tudo para conseguir o tesouro ou a pérola que encontraram, aparentemente ficam mais pobres, mas na realidade conseguiram o objetivo maior da sua vida.

Como Santa Joana Princesa temos de apostar tudo para conseguir o Reino de Deus, que em última instância é um mundo mais justo, solidário e fraterno. Santa Joana ensina-nos a procurar o Reino e a deixar tudo para o conseguir. Não basta encontrar o tesouro, mas sim valorizá-lo como tesouro. Aquele que compreende a mensagem do Reino compromete-se de tal maneira que deixa tudo para o construir.

Guiados pelo Espírito Santo, queremos ser pedras vivas com as quais Cristo edifica a Igreja diocesana de Aveiro.

Que Nossa Senhora da Assunção, titular da nossa Catedral, e a Princesa Santa Joana, nossa padroeira, nos ajudem a viver e a dar frutos de santidade neste Jubileu.

Senhor Jesus, Bom Pastor,

nós te agradecemos a Igreja que somos,

com as suas luzes, as suas sombras,

e o desejo de fidelidade ao Evangelho.

Ensina-nos a ver os sinais da tua presença.

Ajuda-nos a viver o amor e a comunhão, sinais da tua Igreja.

Faz-nos sentir a necessidade de edificar a Igreja pela oração,

pela colaboração e pela partilha de bens,

a construir a nossa Igreja de Aveiro sobre rocha firme.

Acendei no nosso coração um zelo ardente que nos entusiasme a anunciar a Boa Nova a todos.

Amen.

Aveiro, 12 de maio de 2023

+ António Manuel Moiteiro ramos, Bispo de Aveiro


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