Peregrinar para a mudança – Mensagem para a Quaresma
1. Somos peregrinos
A nossa diocese de Aveiro vive um Ano Jubilar que celebra os 600 anos do início da construção da Igreja do Mosteiro de Nossa Senhora da Misericórdia, atualmente a nossa Catedral. Tendo em conta o que se proclamará no Domingo de Páscoa “Jesus aproximou-se deles e pôs-se com eles a caminho”, espera-se que cada um de nós faça também este caminho com Jesus.
A peregrinação é um dos elementos essenciais do Ano Jubilar. Segundo o calendário proposto para este ano, a peregrinação dos arciprestados e a dos vários setores da pastoral diocesana devem ver a catedral como o centro da vida diocesana.
Ao longo do caminho é possível encontrar várias pedras: umas materiais, outras espirituais, umas boas, outras nem tanto, mas a verdade é que todas fazem parte do caminho e todas nos moldam e preparam para que, fortalecidos, motivados e atentos, procuremos Jesus – a isto chamamos conversão ou metanoia.
A caminhada quaresmal deste ano apresenta algumas destas pedras no caminho de cada um de nós e no caminho das nossas comunidades cristãs: pedra de Tropeço que apela à resiliência; pedra Rara que exige conversão; pedra de Toque que nos leva à empatia com os outros; pedra de Construção no respeito pelos dons de cada um; pedra de Arremesso que constrói tolerância; pedra Esculpida ou trabalhada que nos dá a coragem para a mudança; pedra para reclinar a cabeça e nos dá confiança; e a Pedra Angular que é Cristo, meta para onde se dirige a nossa caminhada. Apoiados nesta pedra angular e sustentados com o seu amor, juntemos todas as pedras deste caminho e sejamos verdadeiras pedras vivas.
O Papa Francisco, por sua vez, convida-nos a viver esta Quaresma como uma peregrinação porque, tal como aconteceu com o povo de Deus no Antigo Testamento, «através do deserto Deus guia-nos para a liberdade».
Quem quiser passar da servidão à entrega ao serviço de Deus, do trabalho penoso ao culto reparador, terá que percorrer o seu próprio deserto. O deserto foi lugar de prova para a liberdade recém-adquirida, tempo para ser senhor de uma liberdade concedida gratuitamente e oportunidade para se encontrar com o verdadeiro Deus.
A Quaresma, continua o Papa, é um «tempo forte em que a sua Palavra nos é novamente dirigida: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da servidão” (Ex 20, 2). É tempo de conversão, tempo de liberdade. O deserto é o espaço onde a nossa liberdade pode amadurecer numa decisão pessoal de não voltar a cair na escravidão. Na Quaresma, encontramos novos critérios de juízo e uma comunidade com a qual avançar por um caminho nunca percorrido».
2. Somos pedras vivas
A nossa caminha quaresmal tem etapas, obstáculos a vencer e metas a atingir.
1. A indulgência Plenária própria do jubileu é concedida nas condições habituais (Confissão sacramental, Comunhão eucarística e oração pelas intenções do Sumo Pontífice) aos fiéis verdadeiramente arrependidos e movidos pela caridade, a qual também pode ser aplicada como sufrágio às almas dos fiéis que se encontram no Purgatório, se visitarem a mesma igreja Catedral em forma de peregrinação e aí devotamente cumprirem os ritos jubilares, ou então se durante um conveniente espaço de tempo se entregarem a piedosa meditação, concluindo com a Oração Dominical, Símbolo da Fé e invocação da Bem-aventurada Virgem Maria.
2. Retiro quaresmal,nos dias 16 e 17 de março, na Casa Diocesana de Albergaria, em sintonia com a temática do Congresso Eucarístico Nacional «Partilhar o Pão, alimentar a Esperança». Queremos que seja um tempo de mais oração e partilha de vida e de encontro com Deus.
3. As 24 horas para o Senhor. Nos dias 8 e 9 de março celebramos, a pedido do Papa Francisco, vinte e quatro horas de oração intensa e adoração ao Santíssimo. Este ano seria muito importante que nos tempos de oração e adoração utilizássemos as catequeses “Redescobrir as origens e o sentido da celebração da Eucaristia”, como forma de prepararmos o próximo Congresso Eucarístico Nacional. Temos acesso a estas catequeses no site que foi enviado a todos os sacerdotes pelo nosso Gabinete de Comunicação.
4. A Renúncia Quaresmal será destinada à diocese de Luena, em Angola, e ao Fundo de Emergência Social, da Cáritas Diocesana. As razões do destino da Renúncia Quaresmal prendem-se com os laços que o Serviço Diocesano de Ação Missionária tem com a diocese angolana e a preocupação com os pobres, os imigrantes e os que não têm condições de vida digna e que todos os dias batem à porta da nossa Caritas, e dos grupos Socio-caritativos e Vicentinos. Para muitos dos nossos irmãos, a vida tem sido muito dura, fruto das desigualdades sociais que se vão acentuando na nossa sociedade.
5. No próximo dia 10 de março, todos somos chamados, através da participação cívica no ato de votar, a contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e menos desigual. Há valores dos quais não podemos prescindir, como sejam o respeito pela vida humana, uma sociedade onde as injustiças, as desigualdades sociais e salariais, a corrupção, os lucros desmedidos de alguns, à custa de tantos outros, não tenham lugar nos vários campos da vida social. Votar não é apenas um direito, mas sim uma exigência que nasce da fé cristã e que está na Doutrina Social da Igreja. Se queremos uma sociedade mais justa e fraterna devemos contribuir com o nosso voto. Esta pode ser também uma prática de conversão própria da Quaresma.
Apoiados na pedra angular que é Cristo, e sustentados com o seu amor, juntemos todas as pedras do nosso caminho e sejamos verdadeiras pedras vivas desta Igreja que é a nossa diocese de Aveiro. E, em alegria, celebraremos a Páscoa de Cristo Ressuscitado.
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Aveiro, 8 de fevereiro de 2024.
† António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro