Por Ricardo Monteiro

Inácio de Loyola, poderoso cavaleiro ao serviço do duque de Najera e de família nobre, vive obstinado em combater os franceses e servir a Princesa Catalina. 

Porém tudo muda quando durante uma batalha em defesa da Fortaleza de Pamplona em 1521, cai ensanguentado no chão e fica aleijado de uma perna.

Nunca mais poderia lutar e defender Castela, entregando-se a um estado de vergonha, desespero e agonia e é num momento de tédio que vê uma pequena luz, uma nova vida, mergulhado em livros sobre Cristo e sobre a vida dos santos. 

O conhecimento dos votos de pobreza e caridade de São Francisco e São Domingos arrebatariam para sempre a alma daquele que viria a fundar a Companhia de Jesus, a ordem jesuíta, aquele que deixaria de matar o seu semelhante e combater por pedaços de poeira para se tornar um verdadeiro Cavaleiro dos Céus.

Sendo assim, apressa-se a deixar a sua família, a sua riqueza, o belicismo e a luxúria. 

É urgente levar comida a quem tem fome, dar auxílio aos enfermos, uma palavra de alento a quem mais precisa e servir a Deus tão simplesmente amando. 

Jesus tem-nos solicitado essa prontidão neste tempo difícil de pandemia.

Por vezes temos algum medo de segui-Lo pois não nos queremos humilhar num mundo de costas voltadas à Verdade, não queremos escandalizar as pessoas com o nosso modo de viver mas é neste instante que a coragem do santo nos inspira com a prontidão do seu sim a Deus, o mesmo sim de Nossa Senhora.

Seríamos capazes de abdicar de tudo, como fez Santo Inácio, para alegrar Jesus? 

De seguida, o caminho de Inácio estava longe de ser tranquilo, passando por privações, sentimentos de culpa e perseguições, sendo preso, entregue nas mãos da impiedosa Inquisição, por ser visto como um perigoso líder religioso.

E se te perseguirem por quererem calar a voz de Deus, conformar-te-ias? 

O que significa a morte para ti? Um fim inesperado? O recomeço?

Dizem que perante a face da morte, um minuto pode durar uma eternidade mas o nosso santo mostrara-se tranquilo quanto a isso, mal sabia o que a Mão de Deus lhe reservaria.

De fato, este filme exalta, no mais íntimo de nós, um desejo de resolver certos mistérios da alma, através da jornada de auto-conhecimento de Inácio, de pecador a santo, interpretado pelo actor espanhol Andreas Munoz numa superprodução realizada em 2016 pelo diretor Paolo Dy e produzido por Pauline Mangilog-Saltarin e Ernestine Tamana, nas Filipinas.

Sendo músico, não poderia deixar de recomendar a audição da breve mas maravilhosa banda sonora composta por Ryan Cayabyab que serve minuciosamente o apaixonante enredo de cenários épicos renascentistas.

O momento inicial faz referência a um acontecimento bíblico que somente nos é revelado no fim, acompanhado pelos metais e trovões que cercam um ser combalido que se ergue de um rochedo fitando o céu escuro. 

Este naipe de instrumentos apresenta-nos um motivo rítmico em uníssono e em forte, parecendo anunciar um mau presságio e que aparece ocasionalmente nas cordas.

De entre os trechos musicais destaco ainda The Sword of Loyola, uma viagem de emoções em que surge sob um pano de fundo pintado pela orquestra de cordas, um solo de violoncelo que acompanha a narração da lenda da espada furjada, sendo as cordas do mesmo, a fibra do guerreiro de sangue azul que viria a ter um futuro promissor. 

Não tardará a se ouvir Dance with Catalina,uma dança trovadoresca constituída por uma melodia apresentada por uma harpa medieval e que é repetida pela flauta, acompanhada pelo ensemble de cordas e um pandeiro. 

Por fim, os violinos não resistem e juntam-se à flauta numa mesma melodia assim como a princesa se junta à dança do servo entregando-se em seus braços.

A doçura da flauta surgeria novamente sempre que o personagem sente uma sensação de liberdade, deliciando-se com a Criação, por entre as planícies verdejantes.

Outro momento de destaque é a visita do santo à Igreja de Nossa Senhora de Montserrat, com um belíssimo excerto de música coral.

Convido-vos assim, embalados pela banda sonora, a rezarem a seguinte oração do Santo Inácio e a meditarem em Deus. 

Ad maiorem Dei gloriam