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XXVII Domingo do Tempo Comum – Ano C

Breve comentário

O texto evangélico deste domingo apresenta-se em duas partes aparentemente sem ligação uma com a outra: a primeira fala de fé e a segunda de serviço.

O pedido «Aumenta a nossa fé» é feito pelos Apóstolos, isto é, pelo pequeno grupo escolhido por Jesus, o que significa que tem como pano de fundo não apenas todas as exigências anteriormente feitas por Jesus mas também a missão que lhes irá ser confiada e que, ao tempo da composição do Evangelho, já está em acto. Trata-se, portanto, duma fé que pressupõe a acção, o serviço.

A resposta de Jesus é hiperbólica. Um mínimo de confiança em Deus basta para realizar os maiores prodígios, pois a fé, mesmo quando não é muita, é sempre uma comunhão com Deus, portanto uma participação no seu poder. Aquilo que parece ser humanamente impossível, quer sob o ponto de vista pessoal quer comunitário, poderá ser radicalmente transformado por quem confia não apenas em si mas em Deus. Jesus apresenta uma imagem paradoxal para sublinhar como a fé, se for autêntica, é sempre eficaz e capaz de grandes coisas, mesmo que seja pequena como um grão de mostarda. A amoreira era considerada uma árvore muito difícil de arrancar por causa da força das suas raízes. Quem tem a fé está aberto a Deus, tem uma confiança total n’Ele e Ele pode manifestar a sua força. Por isso, os chefes da comunidade devem ter uma fé assim.

A parábola que se segue é baseada no esquema social da época e na relação entre senhores e escravos. O senhor não tem qualquer dever para com o escravo e este não tem qualquer direito em relação àquele. Ficamos, de repente, com uma sensação amarga pois adivinhamos que Jesus está a falar de Deus e da sua relação connosco. Onde está o amigo que pode ser incomodado fora de horas (Lc 11,5), o bom pastor (Lc 15,3-7), o pai amoroso que acolhe o filho (Lc 15,11-32), etc.?

O que Jesus pretende é tirar da mente dos seus discípulos a ideia duma religião de méritos que era apregoada pelos fariseus, convencidos que, por fazerem muitas coisas (orações, jejuns, esmolas, sacrifícios), tinham direitos diante de Deus, o qual seria «obrigado» a recompensá-los por tudo o que fizeram. É este tipo de relação com Deus que é preciso arrancar…

Jesus aponta para um outro tipo de atitude. O crente deve ser humilde em relação a Deus, numa confiança total. Todo o seu tempo, todas as suas forças e capacidades devem estar empenhados ao seu serviço. Deus não é obrigado a dar-nos qualquer prémio nem a agradecer-nos qualquer serviço. Porém, temos a certeza de que Ele nos ama muito mais do que possamos imaginar e, por isso, no seu amor gratuito nos dará muito mais do que pensamos ou, nas nossas contas humanas, poderíamos esperar.

O adjectivo «inútil» não parece bem escolhido, visto que o servo não foi inútil, mas precisamente o seu sentido paradoxal coloca o acento na mensagem de Lucas; é importante perceber e viver uma atitude de humilde obediência diante de Deus e realizar com modéstia a tarefa que lhe foi confiada. E percebe-se que isto é tanto mais difícil quanto mais importante é a tarefa que nos foi confiada, como é o caso de responsável, em particular da comunidade cristã.

P. Franclim Pacheco

Diocese de Aveiro

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