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Solenidade de Jesus Cristo, Rei e Senhor do Universo – Ano C

Breve comentário

Na celebração de Jesus Cristo, Rei e Senhor do universo, a Igreja propõe-nos a contemplação do mistério que S. Paulo chama «escândalo da Cruz». O texto do evangelho é tirado, pela última vez neste ano litúrgico que termina, da obra de Lucas. Todo o seu evangelho está orientado para a Salvação que é oferecida gratuitamente por Deus na pessoa de seu Filho Jesus.

Jesus acabou de ser crucificado. Hora de suprema entrega de Jesus ao Pai mas, ao mesmo tempo, hora da máxima tentação. Nesta hora decisiva o evangelista Lucas retoma, de maneira habilidosa, as três tentações no deserto (cf. 4,1-13). Já então era anunciado o regresso do diabo «para um tempo fixado» (4,13).

Lucas é o único a notar a presença do «povo» que lá estava a ver… Diante de Jesus, três categorias de espectadores terão o papel do tentador, ridicularizando-o já não acerca da sua identidade de Filho de Deus, como nas tentações no deserto, mas sobre a sua missão, sobre a salvação que veio trazer aos homens.

Antes de mais, temos os chefes do povo. Eles troçam de Jesus, escarnecendo o «Cristo de Deus» que Pedro tinha confessado (9,20), o «Eleito» assim proclamado na Transfiguração (9,35; cf. Is 42,1) e que Deus parecia ter abandonado. Depois intervêm os soldados que, ao verem a inscrição com a causa de condenação, troçam daquele «rei dos Judeus» reduzido à impotência. Na verdade, é ridícula a tábua com a causa da condenação: Jesus é culpado de ser o rei dos judeus, o que todos sabem ser mentira, mas, o que é certo, é que está escrito. É uma realeza que atravessa os séculos. O homem tem necessidade de alguém que o governe e este só pode ser um homem crucificado por amor, um rei sem ceptros, capaz de ser considerado por todos como um malfeitor sem renegar o seu amor pelo homem.

Um dos dois malfeitores blasfema contra o «Cristo». Que Cristo/Messias é este que não consegue salvar-se a si mesmo e a eles?

Estas três frases dirigidas ao crucificado são um convite «salvar-se a si mesmo». Mas a salvação é objecto de graça e acontece apenas do modo como Deus a realiza, através do salvador que Ele enviou. Este é um momento de contradição: como pode um salvador salvar os outros, se ele mesmo vai morrer?

Da parte de Jesus não há qualquer resposta às provocações e tentações vinda daqueles por quem ele mesmo se está a entregar.

É um dos crucificados a assumir o papel de defensor, reconhecendo a sua própria culpa e fazendo eco da tripla proclamação de inocência já antes pronunciada por Pilatos: «Ele não fez nada de mal», e abrindo o seu coração ao Inocente, chamando-o pelo nome: «Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino!».

Perante esta súplica breve, a resposta de Jesus é clara. A oração do condenado é escutada, para além de qualquer medida: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso». Uma vez mais o Salvador, cujo nascimento foi anunciado para o «Hoje» de todos os tempos e de cada homem, o mesmo que entrou na casa e na vida de Zaqueu (Lc 19,1), torna-se a salvação para aquele homem num momento culminante da sua vida.

Quem lê o Evangelho segundo S. Lucas é convidado a entrar no Hoje de Deus, ou melhor, a não perder os encontros que o Senhor diariamente oferece. O «bom ladrão» tinha perdido muitos momentos na sua vida, mas não quer perder este momento que é decisivo! Jesus é um rei que nada pede para si, mas dá tudo e renuncia a salvar-se a si mesmo: «Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á (Lc 9,24).

P. Franclim Pacheco

Diocese de Aveiro

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