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MAIS QUE UMA QUESTAO DE IMPOSTOS  

Georgino Rocha 

As controvérsias dos opositores a Jesus vêm crescendo. Os domingos anteriores narram algumas dessas controvérsias. Quase sempre, as perguntas são capciosas e as parábolas respondem com sabedoria, habilidade e subtileza. No evangelho de hoje surgem os fariseus aliados aos herodianos que “passam ao ataque”. Mt 22, 15-21. Trata-se da questão dos impostos a pagar (ou não) a César, imperador de Roma que dominava também naquelas terras.

«É lícito ou não pagar tributo a César?», questiona a delegação enviada. É uma pergunta armadilhada que não pode falhar. Havia que pôr cobro ao agitador Nazareno que se movimenta tão livremente na esplanada do Templo e desafia o mais sagrado das práticas judaicas.

Leva consigo uma estratégia aliciante: tecer elogios que, se não fossem hipócritas, eram verdadeiros e reconheciam o agir correcto do Mestre. Pagar ou não tributo, eis a questão crucial. Se dizia sim, era colaboracionista com o ocupante romano e, por isso, insolidário com o povo oprimido. Se respondesse não, caía sob a alçada da lei e podia ser acusado de subversivo e revolucionário. E o exército imperial não tardaria a fazer-lhe o que havia feito a Judas, o Galileu, aquando da sublevação por ocasião do censo destinado a conhecer a população e a introduzir nova carga de impostos, cerca de seis anos antes de Cristo.

Jesus acolhe a delegação e aceita a questão. Como é seu hábito, não fala de generalidades nem tece considerações abstractas. Desce ao concreto. Aqui, se faz a prova da verdade e autenticidade. Pede que mostrem a moeda do tributo. E eles, ingenuamente, exibem-na, sinal de que a traziam consigo e pagavam imposto. E prossegue: de quem é esta imagem? E eles respondem sem hesitar: de César. E continua, então pagai-lhe o tributo, como já fazeis. Mas a surpresa estava reservada e seria apresentada com a maior clareza e simplicidade: dai a Deus o que é de Deus, pois a sua imagem clama por reconhecimento em cada ser humano. E a delegação passa da vontade de surpreender ao incómodo de ser surpreendida!

“Se a resposta de Jesus é simples, a sua aplicação é um desafio, afirma Emmanuelle Despointes. É difícil dizer o que depende de Deus ou de César. Portanto, trata-se de dar e não de pagar: reconhecer donde provém a realidade em referência. Os fariseus não são a origem nem da moeda nem do imposto, nem do dom de Deus. Jesus interroga pela nossa relação com o mundo, as pessoas, os bens…Vers Dimanche, 18 Octobre 2020.

Pagar o imposto – questão tão actual – é dever de todo o cidadão, não um dever cego, mas ilustrado por uma consciência informada e desejosa de cooperar para o bem comum da sociedade. A grandeza do homem livre manifesta-se também nesta capacidade de ver, à luz de Deus, a justiça fiscal e de reconhecer que a comunidade tem o direito de lhe fazer esta exigência: imposto necessário, proporcionado, oportuno, solidário, justo.

Tertuliano escreve: “Quais serão as coisas de Deus que são similares ao dinheiro de César? Entende-se a imagem e semelhança com ele. Ele manda, portanto, que se entregue o homem ao Criador, a cuja imagem e semelhança foi feito. Se a questão da imagem remete naturalmente para o homem criado por Deus e capax Dei, a questão da inscrição encontra-se numa passagem de Isaías em que se refere a pertença do homem a Deus. Os convertidos à fé no Deus de Israel usarão na mão a inscrição «Do Senhor» e dirão: «Eu pertenço ao Senhor» (Is 44, 6)”. As palavras de Jesus desafiam todo o crente a fazer-se a pergunta: a quem pertenço? Quem é o meu Senhor?.

A novidade surpreendente de Jesus passa por esta aceitação incondicional e consequente. A imagem de Deus e sua semelhança é o ser humano em pessoa, unido em família e em associações que dão suporte e vitalidade à sociedade, integrado em comunidades cristãs que realizam localmente a missão da Igreja. A Deus, que tem as suas mediações históricas e devem ser respeitadas, pertence tudo e todos!


 

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