Não podemos calar o que vimos e ouvimos.

Um registo da nossa Vigília, na Marinha da Troncalhada, em Aveiro, onde fomos chamados a ser Sal da terra e luz do Mundo.

22 de outubro de 2021

Oração


Neste mundo desabrido,
dizes-nos que não sejamos sal sem sabor,
que só serve para ser pisado,
como panfletos publicitários
distribuídos pelas ruas,
que nem se olham um segundo
e nos caem das mãos
porque não interessam a ninguém,
lixo para os passeios debaixo dos pés
daqueles que continuam a sua vida quotidiana.


Sal sem excesso:
sem ser os protagonistas
que sequestram os olhares,
sem imposições que abrumam com suficiência,
sem perseguir os outros com poder e astúcia.


Sal sem defeito:
que não se esconda
por medo de perder-se ,
nem se deixe enfraquecer pela tibieza,
nem renuncie, por orgulho,
a misturar-se entre aqueles que trazem dissabores.


Convidas-nos a ser sal da Páscoa
que desaparece na comida humana,
que ninguém se apercebe da sua justa presença,
e que só os que estão despertos
o descobrem ressuscitado
no sabor exato de cada existência.


(Benjamim González Buelta)