LECTIO DIVINA – ANO DOS CONSAGRADOS #1|dezembro 2014
Lectio Divina – Ano dos consagrados
a disponibilizar mensalmente, de dezembro de 2014 a janeiro de 2016.
#1 – dezembro 2014
Gn 12,1-9 – Chamamento de Abraão
LECTIO
A história de Abraão começa com uma palavra directa do Senhor. Nos capítulos anteriores o leque dos protagonistas da história foi-se alargando com a apresentação dos povos conhecidos, a partir dos três filhos de Noé: Sem, Cam e Jafet. De súbito, a história afunila-se em dois protagonistas: Deus e Abraão. Estamos perante o mistério da acção de Deus. Porque é que Deus escolhe e fala a Abraão?
A primeira palavra pronunciada por Deus é um convite/ordem a partir: «Vai!». O sentido do verbo hebraico é ainda mais preciso: «Vai por tua conta», parte sozinho. A história de Abraão começa com um convite a deixar o presente para a seguir deixar também o futuro, o filho que Deus lhe irá dar (Gn 22). Assim «Abraão partiu sem saber para onde ia», como comenta o autor da Carta aos Hebreus (11,8).
O que deve deixar Abraão? Três coisas, em ordem de importância: a sua terra, isto é, a sua pátria (Ur dos Caldeus); a sua família, isto é, a sua tribo; a casa de seu pai. Abraão deve deixar todas as suas raízes para confiar somente na palavra de Deus; a única certeza é esta: «Para a terra que eu te farei ver». Só no v. 7, uma vez chegado ao destino, depois de muito tempo e milhares de quilómetros percorridos, Abraão ouvirá dizer que a terra em que está é o seu destino.
Nos vv. 2 e 3 Deus faz a Abraão um promessa tripla, ritmada em sete breves frases: uma terra, uma descendência, a bênção. O termo chave é precisamente «abençoar/bênção» que ocorre cinco vezes no texto, tantas quantas as vezes que em Gn 1–11 apareceu o termo oposto «amaldiçoar». Se com a maldição o mundo e o homem foram separados de Deus, com a bênção concedida a Abraão a humanidade encontra de novo a vida e a salvação.
As cinco bênçãos dadas através de Abraão a todas as famílias da terra retomam assim a bênção tripla dada por Deus no início da criação («E Deus viu que era [tudo muito] bom!). A história do mundo e da humanidade não está, pois sob o signo da morte, mas sob o a relação com Deus; é uma história da salvação e não do pecado.
Juntamente com a bênção emerge a promessa feita a Abraão de ser um «povo grande», ao mesmo tempo que Deus lhe garante aquilo que os homens não conseguiram com a construção duma cidade e duma torre: ter um nome grande. É Deus quem vai engrandecer o nome de Abraão. Assim, a figura deste homem é apresentada como uma esperança para o presente e futuro do povo de Israel, como o é para nós.
A bênção não é só para Abraão. Através dele estende-se a toda a humanidade: «… e serão abençoadas em ti todas as famílias da terra». Com Abraão começa realmente uma nova história.
O texto do chamamento encerra sublinhando a obediência de Abraão à palavra do Senhor: «E Abrão foi, conforme lhe disse Yahweh».
Abraão chega com a família à terra de Canaan. Percorre-a, e conhece os seus habitantes. Talvez não lhe parecesse fácil tomar posse daquela terra. Mas Deus volta a falar-lhe: «Darei esta terra à tua descendência» (v. 7). O Patriarca vê delinear-se o projecto de Deus. É preciso que ele morra, para que as gerações futuras tenham vida. Então, «construiu ali um altar ao Senhor, que lhe tinha aparecido» (v. 7).
E continuou a sua peregrinação: «Deixando esta região, prosseguiu até ao monte situado ao oriente de Betel, e montou ali as suas tendas… Construiu também um altar ao Senhor e invocou o seu nome… Continuou a sua viagem, acampando aqui e ali, em direcção ao Negueb». Basta-lhe estar em relação com Deus e cumprir a sua vontade.
Meditatio (meditação): Ruminar, dialogar, atualizar
Que diz o texto para mim (para nós)?
Oratio (oração): Suplicar, louvar, orar
Que me (nos) faz o texto dizer a Deus?
Contemplatio (contemplação): Discernir, agir, saborear
Agora, diante de Deus, faço silêncio
actio (acção): converter a mente, o coração e a vida
Que devo (devemos) fazer?
Que vou (vamos) fazer?