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HOMILIA DA CEIA DO SENHOR – QUINTA-FEIRA SANTA

HOMILIA DA CEIA DO SENHOR – QUINTA-FEIRA SANTA

 

  1. Aprender com Jesus a viver

 

Neste tempo de pandemia, de crise económica e de incertezas quanto ao futuro, estamos cada vez mais conscientes das nossas fragilidades. Os adjetivos que qualificam este tempo que vivemos são “confinados, reprimidos e deprimidos”.

Confinados pela necessidade de não expandir o vírus e não pormos em risco a nossa saúde e a dos outros; reprimidos em tantas situações que lembram a perda de liberdade de movimentos e ausência de contactos com familiares e amigos; deprimidos porque a esperança é permanentemente adiada e por muito que falemos em normalidade nunca será como antes.

Por tudo isto, e pelo significado especial de que se reveste este dia, é necessário olhar para Jesus e aprender como Ele viveu os momentos mais difíceis da sua vida e que hoje celebramos nesta Eucaristia. Na Última Ceia juntaram-se todas as causas que que levaram Jesus à sua paixão e morte de cruz: o perigo de vida que tinha sido experimentado no Jardim das Oliveiras, o abandono por parte dos seus discípulos, a acusação de homicida, quando não tinha praticado qualquer crime, e o silêncio aparente do Pai nos momentos mais duros da sua vida.

Contudo, neste momento observamos como Jesus manifesta o que de mais profundo existe em si mesmo: é agora que ele ama até ao fim, lava os pés aos seus discípulos para lhes dizer que a atitude mais nobre da vida é o serviço, e ao partir o pão e distribuir o vinho dá-se Ele próprio na entrega da sua vida e no derramamento do seu sangue. Este seria o sinal da sua presença e permanência no meio de nós.

 

  1. Fazei isto em memória de Mim

 

Os sacramentos que hoje celebramos – a instituição da Eucaristia e o ministério ordenado – não são ações de Cristo que devemos simplesmente admirar. A Eucaristia temos de a celebrar sempre em relação com a comunidade onde cada um de nós está inserido, se queremos que Ele seja vida para o mundo.

Na celebração da Ceia do Senhor expressamos a plenitude da nossa fé, e afirmamos a presença do Senhor vivo e ressuscitado presente na sua Igreja. Unimo-nos uns aos outros como família à volta da mesma mesa e temos um momento de profunda comunhão com o Senhor. Professamos, ainda, a nossa unidade com o corpo de Cristo e proclamamos a vitória final de Jesus Cristo sobre a obra da criação, porque Ele venceu a morte. Renovamos o nosso pacto com Deus por meio de Jesus, porque o que de melhor existe no ser humano em relação com Deus deve renovar-se continuamente.

O sacramento da Ordem leva cada um dos sacerdotes a “fazer o que Jesus fez” e a dar a sua vida para que os irmãos tenham vida e a tenham em abundância. Como diz São Paulo, “Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus: Ele, que é de condição divina não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo. Tornando-se semelhante aos homens e sendo, ao manifestar-se, identificado como homem, rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2,5-8).

 

  1. O mandamento novo do amor

 

O mandamento novo do amor deve ser a meta da nossa pastoral e da vida das nossas comunidades cristãs. Deus é amor e é a fonte do amor. Só quem ama permanece em Deus e Deus nele.

O lava-pés, este ano suprimido devido à pandemia e às regras sanitárias que devemos observar, significa a morte de Jesus como sinal de amor consumado pelos seus discípulos. Jesus cinge-se, com uma toalha, para não morrer odiando, mas amando. Esta é a guerra entre a luz e as trevas, isto é, entre o projeto de Deus e do mundo. A sua morte é por todos, por isso também lava os pés a Judas, aquele que o vai entregar. Jesus cinge-se para a sua morte, porque na sua morte está a vitória divina sobre o ódio do mundo. Na sua morte está a sua glorificação, porque ela é a consequência de uma vida em favor dos outros, e assim o amor vence o ódio. Este mundo não deixa que viva o amor e Jesus vai ser sacrificado, como tantos homens e mulheres vítimas da guerra (vejamos Cabo Delgado – Moçambique), da fome, das desigualdades sociais… mas não deixará que o ódio tenha a última palavra, antes pelo contrário, será vencido pelo amor. Deixar-se lavar por Jesus significa abraçar o seu projeto de amor, que o levou a entregar a sua vida pela nossa salvação.

Ao redor do altar se constrói a comunidade cristã e a vida comunitária. Peçamos a Jesus Eucaristia que as nossas comunidades cristãs cada vez mais celebrem e vivam a Eucaristia dominical, que a levem para a vida através do mandamento novo do amor, e que os nossos jovens sintam que vale a pena gastar a sua vida na entrega ao próximo através do ministério ordenado, na vida sacerdotal.

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Catedral de Aveiro, 01 de abril de 2021

António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro


 

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