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III Domingo da Páscoa – Ano B

Breve comentário

O texto evangélico do III Domingo da Páscoa é a continuação da narração do encontro de Jesus ressuscitado com os dois discípulos de Emaús e apresenta-nos a terceira aparição de Jesus ressuscitado narrada por Lucas. O autor apresenta a verdade da ressurreição de Jesus (segundo as Escrituras) e, ao mesmo tempo, a missão confiada aos discípulos.

Os textos dos evangelhos do tempo pascal procuram olhar o acontecimento da morte e ressurreição em diversos pontos de vista (usando os quatro evangelhos) para captar toda a sua profundidade.

Enquanto os discípulos de Emaús estão a relatar aos Onze o seu encontro com Jesus, Ele mesmo se apresenta e, tal como no evangelho de S. João, comunica a Paz que não é apenas a habitual saudação judaica, mas o conjunto dos bens messiânicos anunciados pelos profetas.

            Os presentes julgam ver um fantasma, ou seja, aquilo que permanecia da pessoa depois da sua morte. Podemos ver aqui uma característica da comunidade à qual o evangelista se dirige e os primeiros indícios da heresia dos docetas, segundo a qual Jesus era homem só em aparência.

A perturbação dos discípulos, compreensível pela grandeza do acontecimento de que são espectadores e sinal da dificuldade em reconhecer Jesus (típico em todas as narrações das aparições), é combatida pelo Ressuscitado: «Sou eu mesmo», convidando os discípulos a olhar e a tocar o seu corpo a fim de mostrar a identidade do Crucificado com o Ressuscitado que agora está diante deles. Para poderem acreditar, Ele mostra as suas credenciais: as mãos e os pés trespassados pelos pregos. Não é pelo rosto que Jesus Ressuscitado é identificado. É a sua maneira de ser que diz quem Ele é. E a sua maneira de ser é dar a vida.

A ressurreição não apagou os sinais da morte, ou seja, da entrega total e amorosa que o Filho de Deus fez de Si mesmo por todos os homens. Jesus oferece mais uma prova, pedindo-lhes algo para comer diante deles: uma posta de peixe assado. Jesus não come por necessidade, pois o seu corpo glorioso já não precisa deste modo de manutenção. É somente uma maneira de convencer o seu grupo de amigos.

Os cristãos para quem Lucas escreve são de cultura grega que considerava o espírito como o elemento fundamental da pessoa e o corpo como um acessório a dispensar. Por isso, o evangelista insiste na corporeidade de Jesus: carne e ossos. Jesus é Aquele que continua a estar presente na vida da comunidade, não um ser distante e ausente junto do Pai.

            Depois do reconhecimento, o texto passa à missão introduzida por uma referência ao cumprimento das Escrituras (cf. Lc 18,21; 24,27), lembrando as palavras ou ditos de Jesus que cedo se difundiram na comunidade primitiva, nas quais ele tinha apresentado a sua paixão, morte e ressurreição, queridas pelo próprio Deus e atestadas pelas Escrituras. A fé apostólica na ressurreição de Jesus constitui o princípio interpretativo decisivo para o anúncio pascal da Igreja. A Bíblia cumpre-se em Cristo e nele adquire o seu pleno significado.

«Assim está escrito que o Messias devia sofrer e ressuscitar dos mortos, ao terceiro dia, e no seu nome fosse proclamada a conversão e o perdão dos pecados a todas as gentes, começando por Jerusalém». Esta frase resume o anúncio da primeira comunidade cristã, o kerigma. Os apóstolos tinham a tarefa de pregar a todas as nações (missão universal), a começar por Jerusalém, elemento típico de Lucas para quem a cidade de Jerusalém não é somente um lugar geográfico mas tem um valor teológico. Toda a actividade de Jesus converge para esta cidade. É daqui que parte a missão.

P. Franclim Pacheco

Diocese de Aveiro


 

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